terça-feira, 25 de setembro de 2012

QUANDO TEM DE SER... VOCÊ ACREDITA EM DESTINO?

       Naquele dia fiquei muito puto da vida e quando estou puto da vida eu viajo. Primeiro recebi a notícia que Fernando, o gerente do restaurante que eu trabalhava estava doente e faltaria ao trabalho. Isso significava que eu teria que chegar mais cedo no trabalho e fazer as tarefas dele além das minhas e foi o que fiz. Mas o que não esperava é que aparecesse o substituto de Fernando, seu irmão, que não entendia nada de restaurante mas estava alí para tentar substituir o irmão. O sujeito começou a pegar no meu pé e dos cozinheiros, copeiros e garçons da casa, gente a maioria com 15 anos ou mais tempo de estrada na culinária e atendimento ao público o que me deixou muito irritado, pensei, se continuar a palhaçada eu caio fora. E foi justamente o que ocorreu quando o sujeitinho começou a pegar no meu pé joguei o uniforme no armário e sai. Como o restaurante ficava no Méier e próximo da estação resolvi pegar o trem da Central do Brasil e viajar até Duque de Caxias. A viagem me refrescaria a cabeça e serviria para ver um lote de terra que estava à venda num anúncio de jornal. A minha primeira estranheza seria esta, porque depois de 15 anos  sem faltar um dia no trabalho, acontecesse o que acontecesse, resolvi faltar justo naquele dia?
        Pois bem, andei até a estação do Méier, subi a escadaria e me dirigi ao setor de passagens. Havia uma fila enorme e a minha paciência estava bem limitada devido, principalmente, ao incidente com o irmão do gerente ocorrido no restaurante. Portanto, não estava com estômago para aguentar o que ví, ou seja, uma garota furando a fila bem na minha frente mas foi o que aconteceu. Quando dei por mim ela  havia se postado bem na minha frente. Certamente não tinha a menor idéia do ódio quase mortal que eu tenho de furadores de fila. Nada, nada me deixa mais irritado que presenciar alguém dando uma de esperto e passando outros para trás. Assim, eu já me preparava para soltar o verbo quando a garota olhou para trás fixou bem nos meus olhos e disse: - olha, juro por deus, eu não costumo fazer isso mas não sei o que me deu... eu pensei, elazinha não sabe o que lhe deu? Pois eu já vou mostrar para essa mal educada o que ela não sabe o que lhe deu. Antes que esboçasse qualquer reação ela disse: mas se você quizer eu vou lá para trás da fila... fico lá, na boa. Vestia uma bluzinha branca decotada que deixava á mostra o início de uns peitos que dava para advinhar que eram lindos e eu era obsecado por seios lindos. Havia também aquele jeitinho inocente de dizer as coisas como se tudo que ela fazia era motivado pela mais pura inocência. Esqueci os desaforos que estava para dizer e ficamos conversando enquanto a fila andava. Segunda estranheza: sou inflexível e não abro mão de alguns princípios e furar a fila é um deles, porque justo aquela garota havia me feito abrir mão de um princípio sagrado?
      Conversa vai, conversa vem, a fila andou, pagamos nossas passagens, descemos a escadaria naquele papo já tão íntimo como se fôssemos amigos de longa data. O trem chegou e embarcamos rumo a Duque de Caxias. Ela ia visitar a irmã que, afinal, acabei conhecendo naquele dia mesmo pois a garota me convidou a acompanha-la até a casa da Celeste, um amor de pessoa. No caminho a garota falou que morava em Vaz lobo e que sua casa ficava na primeira rua à esquerda depois do colégio estadual. Antes de chegar na casa da irmã dela paramos numa pracinha para descansar e ali rolou o primeiro beijo. Na volta do passeio já estava francamente disposto a combinar um novo encontro que foi o que eu fiz. Tratamos de nos encontrar na estação do Méier, no domingo, às três da tarde. Infelizmente no domingo houve um desencontro pois ela me esperou no lado de dentro da estação e eu a esperei no lado de fora. Fui para casa decidido a esquecer a garota que havia dado o primeiro cano da minha carreira de conquistador.
Passaram seis meses, às vezes eu me pegava pensando na garota mas logo esquecia até que um dia recebi um telefonema da minha tia Custódia. Ela havia mudado de sua casa em Honório Gurgel para um apartamento em Vaz lobo, passou o endereço para mim e anotei, na promessa de qualquer dia de folga no restaurante ir visitá-la. Dito e feito na primeira oportunidade fui visitá-la. Desci do ônibus em Madureira e, para economizar o dinheiro da passagem resolvi andar a pé até o endereço. Era um percurso longo de Madureira até Vaz Lobo e quando passei pelo Colégio Estadual, de repente, lembrei da garota, ela dissera que morava na primeira rua à esquerda do estabelecimento de ensino. Na esquina da rua é claro que eu dei uma olhada, lá estava ela, na frente de sua casa conversando com as primas. Ali, naquele momento, meu coração pulou no peito e eu achei muito esquisito pois nunca havia sentido nada igual por nenhuma garota. Fui lá e quando ela me viu fez sinal que não chegasse perto da casa, as primas correram para dentro rindo e ela saiu na rua para conversar comigo. Segundo ela o padrasto era uma fera e não permitia namorar por achar que era muito nova.
        Terceira e última estranheza, se eu não tivesse ido a ´pé para economizar a grana da passagem, se fizesse o contrário, tivesse descido do ônibus em Madureira e entrado em outro rumo a Vaz Lobo não teria passado em frente á rua à esquerda do colégio, não teríamos nos encontrado. Mas nos encontramos, começamos a namorar, casamos e estamos juntos há 35 anos...não tinha de ser?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

EU SOU DE TEMPO QUE...







      Hoje fui com minha filha no supermercado Santos, em Palhoça, para sacar um dindin. No caixa eletrônico estavam duas senhoras por sinal muito bem vestidas e rechonchudas. Elas estavam realmente encontrando muita dificuldade para sacar dinheiro, a máquina, como se sabe, solicita senhas, letras e números, um inferno para as duas balzaquianas. De repente uma delas soltou um puta que pariu e a outra, logo em seguida, mandou o caixa eletronico simplesmente tomar bem naquele lugar. E não cochichavam não, as imprecações foram vociferadas em alto e bom som e para quem quisesse ouvir.   
    Não dá o que pensar esse tipo de atitude das pessoas? Eu sou do tempo que duas senhoras aparentemente distintas jamais tomariam esse tipo de atitude.
       E as crianças, deus do céu... eu sou do tempo que os pirralhos obedeciam e respeitavam seus avós e, por consequência respeitavam idosos. Mais um caso. Eu ainda morava em São José e, certo dia, eu e minha esposa nos deparamos com uma cena muito deprimente. Voltávamos de carro de uma churrascaria,  já passava da meia noite, quando observamos que uma senhora, da janela da sua casa, chamava o neto pedindo que entrasse para dentro devido a adiantado da hora. O menino que não poderia ter mais que 12 anos, no primeiro momento apenas olhou a senhora, não respondeu nada e continuou o papo com uns rapazes que estavam em sua companhia. A preocupada senhorinha, ainda encarapitada na janela, chamou-o novamente sendo que dessa vez ele respondeu; - vó, vá pá merda!!! Foi o que deu para ver e ouvir antes que nos distanciássemos do local. Francamente gente, eu sou do tempo que se acontecesse uma coisa dessas, os próprios rapazes que faziam companhia teriam dado uma surra no moleque ao invés de ficarem rindo.
       Evidentemente que todo comentário que faço e seja lá de que assunto que trate, sempre me abstenho de generalizar, até porque as bondades e maldades desse mundo sempre existiram e existirão. Então o que quero dizer é que pessoas mal educadas, crianças agressivas e desbocadas, jovens rebeldes sem causa, sem educação, não se constituem invenções dessa geração pois fazem parte do contexto social em que vivemos desde que o mundo é mundo, mas...
     Observando as transformações que ocorreram e que estão ocorrendo no planeta, como de forma vertiginosa os recursos tecnológicos surgiram, como a transmissão de conhecimentos e culturas se espalharam e se misturaram entre os povos, não seria de esperar que as pessoas se tornassem melhores e mais educadas em suas interações pelo mundo?        
     Quando alguém começa a dizer - ah, pois é, no meu tempo... dá vontade de responder que no seu tempo porra nenhuma mas depois fico imaginando que de repente naqueles "bons tempos" muita coisa de ruim que se faz hoje naquele tempo não se fazia mesmo. Por exemplo, desde quando que naquele tempo um aluno daria um chute no trazeiro de uma professora por mais louca que ela fosse? Nunca mesmo. 
        O que podemos fazer? Quem sabe embarcar as pessoas numa máquina do tempo, numa arca de Noé dos tempos modernos e retornar a um passado mais educado? Mas...e o computador nosso de cada dia, a internet, o orkut, o facebook, as câmeras digitais, o shopping... Ninguém vai querer voltar à máquina de escrever se bem que eu sou do tempo da datilografia, do tempo que o sistema não caia deixando bancos, empresas e pessoas no maior apuro. 
         Lembro que minha vó Ondina, à beira do fogão de lenha, enquanto assava tainhotas e corvinas na grelha sobre brasas incandescentes resmungava que antigamente as coisas eram melhores, havia o escravo fazendo o trabalho pesado da roça e as negras fazendo os trabalhos domésticos, agora...
         A conclusão que se chega é que, em qualquer época que se viva, a anterior, a que ficou para trás sempre será melhor. E fico imaginando ainda que é normal que as pessoas mais antigas, em algum momento, insatisfeitas com o rumo que o mundo está seguindo, tenham vontade de descer desse planeta. 







   




  

terça-feira, 24 de julho de 2012

FELIZ É QUEM AMA O QUE FAZ ?

      

 


         Tenho seguidamente ouvido dizer isso: "feliz é aquele que ama o que faz". Evidentemente que isso é uma verdade incontestável, mas e quando estamos naquela função determinada pela necessidade do momento, quando se trata de optar por agarrar a oportunidade de trabalho ou é o desemprego? 
     Tenho pensado muito nisso porque vez em quando dá vontade de afirmar isso a meus filhos "feliz é aquele que ama o que faz" , dá uma vontade imensa dizer a eles essa verdade resumida nessa frase de estímulo para orientá-los que sigam uma profissão que seja apaixonante para eles. Mas eu tenho medo de dizer, confesso. Prefiro dizer que qualquer atividade que exerçamos em nossas vidas devemos executá-la com competência, com planejamento, com organização, com objetivos claros, com honestidade, com ética, com responsabilidade acima de tudo. 
     De que adianta amar uma profissão se esquecemos qualquer um desses princípios? Adianta de nada. Amar uma profissão não basta se a ela não dedicamos nosso estudo e pesquisa, se não projetamos o futuro que queremos quando abraçamos uma atividade seja ela qual for. Mas o pior, o trágico, é quando a irresponsabilidade se une a completa falta de tesão por aquilo que se faz. Alguém sempre vai pagar por isso. Aquela enfermeira que estava de plantão na UTI do hospital (não vou citar o nome) por ocasião de um procedimento cirúrgico nas minhas artérias carótidas é um bom (ou mau) exemplo do que estou falando. Ela devia ficar atenta 24 horas na observação dos pacientes mas, ao invés disso, se distraia na internet trocando figurinhas com alguém em alguma rede social. Por três vezes falei que não estava bem, que estava me sentindo muito mal e ela apenas me disse: se piorar muito me fala. A minha grande sorte foi que naquele  momento crítico a enfermeira chefe passou por ali, olhou o termômetro da pressão acima da minha cabeça e então foi aquela correria. De repente me ví cercado por enfermeiras e  médicos ditando procedimentos de urgência para salvar minha vida de modo que graças a essa equipe médica de plantão e, principalmente, a enfermeira chefe hoje estou aqui escrevendo essas linhas. 
            Gostaria muito de poder perguntar para aquela enfermeira do plantão daquela noite que costuma se distrair nas redes sociais enquanto os pacientes ficam gemendo em seus leitos se ela ama sua profissão, se ama o que faz e se é feliz...De que adianta dizer que somos felizes porque amamos uma profissão ou alguém, porque amamos nossos filhos, nossos irmãos, nossas esposas ou maridos se deles não cuidamos com responsabilidade? Pelos exemplos de amor que tenho observado só posso chegar a essa conclusão: que muita gente ama só da boca para fora. Até as pessoas que dizem com aquele fervor característico que amam a deus estão sob suspeição pois suas atitudes egoístas na vida nem de longe correspondem ao que deus supostamente espera delas que é viver solidário a dor do seu próximo.      










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quarta-feira, 4 de julho de 2012

OS ANIMAIS NÃO SERIAM SANTOS SE...



 
        Outro dia numa das comunidades do orkut que participo duas pessoas iniciaram uma discussão interessante sobre pessoas e cães, sinceramente não sei quem teria razão uma vez que as duas partes apresentavam argumentos bastantes convincentes. Tudo começou porque uma delas postou algo assim: "quanto mais conheço as pessoas mais admiro os animais". A segunda pessoa respondeu que quando alguém começa misturar gente com bicho na mesma escala de valor é porque anda mal da cabeça" ou porque não consegue conviver com seus iguais e vai se consolar com os bichos de estimação, que aceitam tudo, que obedecem tudo e só abanam o rabo como resposta.
      Analizando essa questão me veio à lembrança que, muitas vezes, quando eu miro bem nos olhos de meu cachorro me pego pensando o que ele estaria pensando mas logo me lembro que bicho não pensa. Mas foi numa dessas ocasiões que me ocorreu o seguinte: E se os bichos pensassem e nós não, seriam eles o que são? Lógico que não seriam, como também e da mesma forma não seríamos o que somos em termos de sociedade humana.
  Cabe então fazer uma reflexão sobre alguns aspectos a serem considerados à partir da suposição de uma inversão de papeís quanto a capacidade de raciocínio entre, por exemplo, os cães e o homem. 
    Partindo do princípio que na evolução das espécies o cérebro canino se desenvolvesse mais que os demais animais como seria e como se daria a relação entre o homem e os cães? Inteligentes e com a capacidade para planejar, organizar, criar, modificar, seriam os cães melhores do que somos? 
      Levou um susto?
   Pois é, quem duvida que eles não seriam ainda piores, bem mais perversos, falsos, ardilosos, arrogantes, prepotentes mais odiosos e opressores do que nós, os humanos? É muito bom pensar nisso quando dizemos que quanto mais conhecemos o homem mais gostamos dos animais.
       Outro aspecto que vem a mente diz respeito a cadeia alimentar e como estaríamos nós numa situação de inferioridade intelectual na relação com nossos senhores, os cães. Deus me livre de pensar se não seríamos a primeira opção na mesa dos bichos...as mulheres naturalmente teriam a preferência no cardápio, nós, os homens, com essa carninha dura, cheia de músculos ficaríamos como segunda opção, os cães, certamente, gostariam de degustar as mulheres. Com suas coxas mais grossas, bundas mais polpudas e com suas carnes mais tenras e gostosas, sem dúvida, seriam levadas ao matadouro e abatidas com maior frequência.
      Penso que haveriam ONGS, Associações de Proteção a Humanos que defenderiam uma morte com pouco ou nenhum sofrimento, haveriam poucos e abnegados cães que lutariam pela criação de lei que proibisse estraçalhar humanos vivos, principalmente as mulheres, tão fofinhas...essas boas almas caninas recolheriam os humanos que vagassem pelas ruas, famintos revirando lixo para comer e abrigariam em instituições que dariam uma boa complementação alimentar até colocá-los para abastecimento em algum açougue de supermercado.
     Vou parar por aqui e deixar o resto por conta da imaginação de vocês, mas antes gostaria de fazer alguns recortes nesse texto para ajudar na reflexão sobre a relação com os nossos amigos os animais:

a) é fundamental entender que bicho é bicho, gente é gente, como ser vivo, com suas especificações e limitações impostos pela mãe natureza, fato;

b) precisamos nos aceitar assim mesmo como somos, qual seja, uma colcha de retalhos onde se misturam virtudes e defeitos e admitir que nosso inocentes animais de estimação como os cães e outros animais não seriam esses santos, não seriam nem melhores ou diferentes se estivessem em nosso lugar como os privilegiados pela natureza na evolução das espécies;

c) amar e respeitar os animais é, justamente, entender que nosso desenvolvimento intelectual em nível superior a outros seres vivos é uma enorme dádiva da mãe natureza para com a espécie humana e, respeitá-los, é o mínimo que podemos fazer levando-se em conta que é assim que gostaríamos de sermos tratados se estivéssemos nas mesma posição que eles.






quarta-feira, 6 de junho de 2012

RONALDINHO GAÚCHO, GÊNIO DA BOLA, MILIONÁRIO, FAMOSO E...FEIO!"








O drama vivido por Ronaldinho Gaúcho é um caso a ser tratado no âmbito da Psicologia Social e trás componentes mais intrínsecos que a suposta condição de bêbado, notívago ou mercenário do craque de bola.  A verdade precisa ser dita porque o fato é que o que Ronaldinho Gaúcho faz fora dos gramados Renato Gaúcho, Romário, Ronaldo Fenômeno, Pelé, Maradona e muitos outros fizeram e fazem ainda muito pior.  A pergunta então é: Por que esse estardalhaço todo? Porque em todos os canais de televisão, nos rádios, jornais, só se fala em Ronaldinho Gaúcho e, na maioria dos caso, se fala mal? Com o mesmo vigor falam de sua decadência moral quanto física e o pior, paralelamente e inacreditavelmente, foi passado uma borracha criminosa apagando simultaneamente tudo o que ele fez de maravilhoso e exemplar com a bola nos pés na última década.

Quando falo que esse drama vivido pelo craque acusado de cometer excessos que prejudicam sua carreira deve ser visto também pela ótica da Psicologia Social afirmo isso porque essa reação moralista da imprensa brasileira e da população tão facilmente manipulável , tão facilmente enredada por histórias novelescas e programas tipo BBB, sofrem da Síndrome de repulsa do feio. Síndrome cultivada no seio de uma sociedade doentia escrava da beleza e que não perdoa quem escapa desse perfil estético cujas linhas estão acentadas em características físicas do que é entendido e aceito como belo. 

Assim, tendo mais a acreditar que o que Ronaldinho fez de tão horrível para suscitar tanta rejeição foi ter nascido feio, daqueles feios que infelizmente não dá para disfarçar com maquilagem, nem com boas roupas, nem com plástica pois teria que mudar praticamente tudo no rosto se quizesse melhorar.        

O que mais enerva essa parcela doentia escrava dos ditames da beleza é que Ronaldinho Gaúcho nasceu sim feio de doer mas acompanhado de uma sorte tão grande ou maior que sua feiúra, fato que dificulta enormemente a essa gente de externar sua incontida repulsa por ele ser feio e não bonito. Ronaldinho, afortunadamente, nasceu numa família bem estruturada, uma boa família, com irmãos unidos, que se querem bem, pais amorosos que deram amor e carinho na infância e adolescência. Vendo-o falar, salta aos olhos que recebeu uma boa educação. 

Seguiu a carreira do irmão, Assis, e se transformou no maior jogador do futebol brasileiro de todos os tempos somente suplantado em fama por pelé e,  verdade seja dita, não superou pelé porque esse viveu numa época que se inventava rei para tudo, havia o rei do rock, o rei do bolero, rei da música popular brasileira e rei do futebol. Se surgisse naquela época e jogando o futebol genial e desconcertante que joga nos dias atuais, para azar de pelé,   Ronaldinho é que seria o eternamente rei.  

Como aspirante a jogador de futebol, no caso de Ronaldinho, a carência de beleza não atrapalhou seus planos que era jogar, ficar rico e famoso. Ficou famoso e milionário e, se fosse bonito, fizesse o que fizesse seria idolatrado uma vez que essa parcela da sociedade doentia escrava do belo é suficientemente hipócrita para perdoar os deslizes éticos e morais de seus "bonitões".                        

 Enquanto aplaudem suas jogadas geniais, seus dribles quase impossíveis aguardam a primeira oportunidade para expressar toda aversão que sentem pela  falta de beleza do craque, uma má fase por temporária que seja e não perdem tempo e passam a ação. Ainda há o acréscimo de grande parte da imprensa odiá-lo pelo fato do craque querer distância de repórteres, fotógrafos, etc. mantendo onde quer que vá um batalhão de seguranças prontos a espantar essas aves de mau agouro sempre prontos a fofocar, futricar, bisbilhotar a vida íntima dos famosos. 
A carreira de Ronaldinho Gaúcho não chegou ao fim e seu belo futebol ainda vai render grandes jogadas para deleite de nossos olhos, disso tenho a mais absoluta certeza, mas é bom ele se precaver psicologicamente. Tomara que jogue ainda por muitos anos, até os quarenta ou mais para que nossos olhos cansados de ver tanta mediocridade e nulidades em campo brilhem de alegria sempre que a bola chegar aos seus pés mágicos. Obrigado Ronaldinho Gaúcho.  


"Que ninguém culpe um homem por ser feio". (Aristóteles) 
 

"Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por alguma outra razão". (Charles Bukonski)












quarta-feira, 9 de maio de 2012

A TENTATIVA DE ASSASSINATO DE UM CÃO

 
  
         Foi esse olhar que me desarmou completamente. Eu estava furioso, com ânsias de matar, queria pegar o Jack e fazê-lo pagar muito caro pelo estrago. Ele havia roido o registro da água (mais uma vez) e minha casa estava debaixo d'água, estava inundada.
      O esguicho que saia pelo cano estraçalhado era tão forte que mais parecia um chafariz de praça. Quando me viu sair do carro ele logo sentiu o clima e tratou de fazer aquela cara de paisagem como se nada tivesse a ver com o dilúvio. Procurei um pau pra bater nele mas não achei nenhum, como já falei eu queria assassinar o Jack o meu adorado cão da raça pit bull, ou faria isso ou teria um troço ali mesmo.   
     O sangue subira todo pra cabeça e eu estava tomado de fúria assassina, olhei em volta, dessa vez a procura de uma pedra, um ferro, sei lá, uma arma qualquer que me auxiliasse no cumprimento de meu intento que era deletar o Jack desse mundo e foi então que eu vi o martelo, peguei-o, era só mirar a testa e dar a cacetada. Jack naturalmente tentou fugir mas em vão pois a corrente que o prendia limitava seu espaço e então ficou encolhido, espremido junto ao chão aguardando pelo abate. 
     Quero deixar bem claro que meu gesto tresloucado ocorria por causa de uma sequência de destruição provocada pelo meu adorável cão da raça pit bull, a bem da verdade, Jack já havia destruído tantas coisas que só faltava mais uma gota para encher e transbordar o meu copo de sanidade. Caminhei decidido na direção dele para dar a martelada, bastaria uma só, bem no meio da testa e meus problemas acabariam. Mas foi então que eu cometi um erro fatal ao olhar para Jack. Não deveria ter olhado. Aquele olhar assustado e confuso me desarmou completamente porque pareciam dizer que, logrando meu intento depois me arrependeria amargamente. Estavam a me dizer que era apenas um animal de estimação, brincalhão, que gostava de roer coisas para exercitar os dentes fortes, o olhar de Jack transmitiam um medo imensurável, uma total confusão para o que, seguindo seu instinto canino, era um ato inexplicável da minha parte uma vez que não entendia o porquê de eu estar tão furioso com ele. Só porque havia roido uns canos que esguichavam água? Os olhos de Jack pareciam dizer: ponha-se no meu lugar e verás o quanto sou inocente e quanto injusto tens sido comigo toda vez que destruo alguma coisa dentro e fora da casa.
      Os olhos de Jack pareciam dizer tantas coisas que acabei jogando o martelo pra longe e, ao invés da martelada, me pus a acariciá-lo. Esse tipo de atitude tipicamente humana deve deixar os animais bastante convencidos da nossa insanidade mas o que eu fico a imaginar cá com meus botões depois disso tudo é que tipo de percepção nós, humanos, temos dos animais como seres vivos ocupando um espaço nesse mundo em que vivemos.
     Eu estou sinceramente convencido que, para muita gente, um cachorro correndo e uma pedra rolando não tem muita diferença e muitas vezes já me peguei pensando se na evolução das espécies, se no fato da inteligência do homem ter se desenvolvido e chegado ao nível que chegou não foi um senhor tiro no pé da mãe natureza. Vemos tanta devastação do meio ambiente, tantas maldades cometidas contra animais que até tenho dúvidas se merecemos o dom da inteligência já que a utilizamos muitas vezes de forma tão torpe, equivocada e destrutiva.
    Qual o problema se nós como outros animais tivéssemos o mesmo nível de desenvovimento intelectual? Provavelmente não teríamos sobrevivido a nossos predadores naturais e a raça humana teria se extinguido, menos mal, quantas barbáries certamente deixar-se-ia de cometer, por exemplo, nunca se viu um bicho jogar seu filhote de um precipício mas homem sim, ele é capaz de jogar uma criança do quinto andar de um prédio, humano inteligente mata, assassina seus animaizinhos de estimação (como eu quase ia fazendo) ou abandona-os...


sexta-feira, 20 de abril de 2012

A PERSPECTIVA DE TER MATADO ALGUÉM




           
 
              Você já passou pela esperiência de ter atropelado alguém? Espero sinceramente que não. Eu já, 3ª feira, dia 17 de abril 2012, às 14h30, rodovia BR-101 sentido Palhoça /São José.
          Era meu primeiro dia de férias mas eu precisava fazer duas coisas, primeira, procurar uma Clínica ou Laboratório para agendar uns exames solicitados pela dra. Cintia, minha médica cardiologista, segunda, precisava terminar um serviço na SDR que não gosto de deixar nada mal terminado. E o trânsito estava uma merda, aliás a merda de sempre.
             Uma obra numa das pistas da BR-101 havia inaugurado o caos e o cenário era o seguinte: carros, ônibus e caminhões a meia pista andando em marcha lenta, a passo de tartaruga e motos passando voando por entre a turba. Olhei para a via marginal e observei que o trânsito fluia por lá, o dia passa célere, o tempo corre ligeiro e eu tinha muitas coisas para fazer e então tomei a decisão fatídica, sair da BR-101 e passar para via marginal. Mas as motos não permitiam a manobra, como já falei milhares delas passavam numa velocidade louca por entre carros e caminhões que trafegavam naquele passo lento. Fiquei aguardando uma oportunidade de guiar meu carro para outra pista, a da direita para e finalmente pegar a marginal. Eu juro que olhei pelo espelho retrovisor da porta direita do carro e não ví moto alguma, na sequência engatei a marcha e pus o carro na pista da direita. Então ouvi um estrondo tremendo, uma moto havia batido violentamente na porta direita do meu carro, um grito de mulher, agoniado e apavorante deu-me a percepção de que estava envolvido no meu primeiro acidente de trânsito. A moto caiu para o lado do asfalto carregando o motoqueiro, a mulher, carona, foi expelida do banco, saltou para cima e caiu de cabeça na rodovia. Fique aturdido mas consegui serenidade para levar o carro até o meio fio e estacionar.
        Até aquele instante o momento mais difícil da minha vida eu considerava quando quase morri numa cama de UTI depois de ser submetido a um procedimento cirúrgico para colocação de Stend em duas artérias coronárias. Mas naquele exato momento eu estava atônito sentado no meu carro e havia um corpo de mulher estirado no asfalto. Nunca vou poder descrever esse momento na riqueza de detalhes que lhe é devido para que as pessoas que nunca passaram por isso entendam a dimensão exata do sofrimento e da angústia a que fui submetido. Desvencilhei-me do cinto de segurança e corri para socorrer a vítima. O marido, mancando numa das pernas e segurando um dos braços com a mão, foi de encontro a mulher e começou a retirada do capacete. As pessoas em volta diziam para ela não se mecher até chegar socorro, ajudei a retirar o capacete. Falei para ela procurar mexer o pé, ela tentou e mexeu, pedi que procurasse mexer com os dedos das mãos, a mulher tentou e conseguiu mexer, estava tudo bem com os membros superiores e inferiores, nenhuma fratura. Ela havia batido com a cabeça violentamente no asfalto mas o capacete salvou-lhe a vida. Logo depois chegou o carro dos bombeiros, também do Samu e após os atendimentos de praxe levaram a mulher para o Hospital Regional.
        A moto não sofreu nenhuma avaria, os prejuízos ficaram por conta da porta do meu carro totalmente amassada e do espelho retrovisor quebrado. Numa situação dessas prejuízos materiais perdem a relevância, pelo meonos para mim, uma vez que o que mais importava naquele momento era que a vida daquela mulher estirada no asfalto havia sido poupada. Dei o número do meu telefone, apertei a mão do sujeito e fui embora, até relativamente feliz e aliviado.