quarta-feira, 9 de maio de 2012

A TENTATIVA DE ASSASSINATO DE UM CÃO

 
  
         Foi esse olhar que me desarmou completamente. Eu estava furioso, com ânsias de matar, queria pegar o Jack e fazê-lo pagar muito caro pelo estrago. Ele havia roido o registro da água (mais uma vez) e minha casa estava debaixo d'água, estava inundada.
      O esguicho que saia pelo cano estraçalhado era tão forte que mais parecia um chafariz de praça. Quando me viu sair do carro ele logo sentiu o clima e tratou de fazer aquela cara de paisagem como se nada tivesse a ver com o dilúvio. Procurei um pau pra bater nele mas não achei nenhum, como já falei eu queria assassinar o Jack o meu adorado cão da raça pit bull, ou faria isso ou teria um troço ali mesmo.   
     O sangue subira todo pra cabeça e eu estava tomado de fúria assassina, olhei em volta, dessa vez a procura de uma pedra, um ferro, sei lá, uma arma qualquer que me auxiliasse no cumprimento de meu intento que era deletar o Jack desse mundo e foi então que eu vi o martelo, peguei-o, era só mirar a testa e dar a cacetada. Jack naturalmente tentou fugir mas em vão pois a corrente que o prendia limitava seu espaço e então ficou encolhido, espremido junto ao chão aguardando pelo abate. 
     Quero deixar bem claro que meu gesto tresloucado ocorria por causa de uma sequência de destruição provocada pelo meu adorável cão da raça pit bull, a bem da verdade, Jack já havia destruído tantas coisas que só faltava mais uma gota para encher e transbordar o meu copo de sanidade. Caminhei decidido na direção dele para dar a martelada, bastaria uma só, bem no meio da testa e meus problemas acabariam. Mas foi então que eu cometi um erro fatal ao olhar para Jack. Não deveria ter olhado. Aquele olhar assustado e confuso me desarmou completamente porque pareciam dizer que, logrando meu intento depois me arrependeria amargamente. Estavam a me dizer que era apenas um animal de estimação, brincalhão, que gostava de roer coisas para exercitar os dentes fortes, o olhar de Jack transmitiam um medo imensurável, uma total confusão para o que, seguindo seu instinto canino, era um ato inexplicável da minha parte uma vez que não entendia o porquê de eu estar tão furioso com ele. Só porque havia roido uns canos que esguichavam água? Os olhos de Jack pareciam dizer: ponha-se no meu lugar e verás o quanto sou inocente e quanto injusto tens sido comigo toda vez que destruo alguma coisa dentro e fora da casa.
      Os olhos de Jack pareciam dizer tantas coisas que acabei jogando o martelo pra longe e, ao invés da martelada, me pus a acariciá-lo. Esse tipo de atitude tipicamente humana deve deixar os animais bastante convencidos da nossa insanidade mas o que eu fico a imaginar cá com meus botões depois disso tudo é que tipo de percepção nós, humanos, temos dos animais como seres vivos ocupando um espaço nesse mundo em que vivemos.
     Eu estou sinceramente convencido que, para muita gente, um cachorro correndo e uma pedra rolando não tem muita diferença e muitas vezes já me peguei pensando se na evolução das espécies, se no fato da inteligência do homem ter se desenvolvido e chegado ao nível que chegou não foi um senhor tiro no pé da mãe natureza. Vemos tanta devastação do meio ambiente, tantas maldades cometidas contra animais que até tenho dúvidas se merecemos o dom da inteligência já que a utilizamos muitas vezes de forma tão torpe, equivocada e destrutiva.
    Qual o problema se nós como outros animais tivéssemos o mesmo nível de desenvovimento intelectual? Provavelmente não teríamos sobrevivido a nossos predadores naturais e a raça humana teria se extinguido, menos mal, quantas barbáries certamente deixar-se-ia de cometer, por exemplo, nunca se viu um bicho jogar seu filhote de um precipício mas homem sim, ele é capaz de jogar uma criança do quinto andar de um prédio, humano inteligente mata, assassina seus animaizinhos de estimação (como eu quase ia fazendo) ou abandona-os...


sexta-feira, 20 de abril de 2012

A PERSPECTIVA DE TER MATADO ALGUÉM




           
 
              Você já passou pela esperiência de ter atropelado alguém? Espero sinceramente que não. Eu já, 3ª feira, dia 17 de abril 2012, às 14h30, rodovia BR-101 sentido Palhoça /São José.
          Era meu primeiro dia de férias mas eu precisava fazer duas coisas, primeira, procurar uma Clínica ou Laboratório para agendar uns exames solicitados pela dra. Cintia, minha médica cardiologista, segunda, precisava terminar um serviço na SDR que não gosto de deixar nada mal terminado. E o trânsito estava uma merda, aliás a merda de sempre.
             Uma obra numa das pistas da BR-101 havia inaugurado o caos e o cenário era o seguinte: carros, ônibus e caminhões a meia pista andando em marcha lenta, a passo de tartaruga e motos passando voando por entre a turba. Olhei para a via marginal e observei que o trânsito fluia por lá, o dia passa célere, o tempo corre ligeiro e eu tinha muitas coisas para fazer e então tomei a decisão fatídica, sair da BR-101 e passar para via marginal. Mas as motos não permitiam a manobra, como já falei milhares delas passavam numa velocidade louca por entre carros e caminhões que trafegavam naquele passo lento. Fiquei aguardando uma oportunidade de guiar meu carro para outra pista, a da direita para e finalmente pegar a marginal. Eu juro que olhei pelo espelho retrovisor da porta direita do carro e não ví moto alguma, na sequência engatei a marcha e pus o carro na pista da direita. Então ouvi um estrondo tremendo, uma moto havia batido violentamente na porta direita do meu carro, um grito de mulher, agoniado e apavorante deu-me a percepção de que estava envolvido no meu primeiro acidente de trânsito. A moto caiu para o lado do asfalto carregando o motoqueiro, a mulher, carona, foi expelida do banco, saltou para cima e caiu de cabeça na rodovia. Fique aturdido mas consegui serenidade para levar o carro até o meio fio e estacionar.
        Até aquele instante o momento mais difícil da minha vida eu considerava quando quase morri numa cama de UTI depois de ser submetido a um procedimento cirúrgico para colocação de Stend em duas artérias coronárias. Mas naquele exato momento eu estava atônito sentado no meu carro e havia um corpo de mulher estirado no asfalto. Nunca vou poder descrever esse momento na riqueza de detalhes que lhe é devido para que as pessoas que nunca passaram por isso entendam a dimensão exata do sofrimento e da angústia a que fui submetido. Desvencilhei-me do cinto de segurança e corri para socorrer a vítima. O marido, mancando numa das pernas e segurando um dos braços com a mão, foi de encontro a mulher e começou a retirada do capacete. As pessoas em volta diziam para ela não se mecher até chegar socorro, ajudei a retirar o capacete. Falei para ela procurar mexer o pé, ela tentou e mexeu, pedi que procurasse mexer com os dedos das mãos, a mulher tentou e conseguiu mexer, estava tudo bem com os membros superiores e inferiores, nenhuma fratura. Ela havia batido com a cabeça violentamente no asfalto mas o capacete salvou-lhe a vida. Logo depois chegou o carro dos bombeiros, também do Samu e após os atendimentos de praxe levaram a mulher para o Hospital Regional.
        A moto não sofreu nenhuma avaria, os prejuízos ficaram por conta da porta do meu carro totalmente amassada e do espelho retrovisor quebrado. Numa situação dessas prejuízos materiais perdem a relevância, pelo meonos para mim, uma vez que o que mais importava naquele momento era que a vida daquela mulher estirada no asfalto havia sido poupada. Dei o número do meu telefone, apertei a mão do sujeito e fui embora, até relativamente feliz e aliviado.






sábado, 10 de março de 2012

O AMIGO QUE IDEALIZAMOS NÃO EXISTE...

 

 


      Quando falamos em amigos, amizades, tudo pode ser muito relativo, por exemplo, os amigos que adicionamos no orkut, facebook e outras redes sociais no maior das vezes mal conhecemos, são amigos dos amigos dos amigos.
        Amizade em outros tempos era relação permitida apenas a um seleto número de pessoas á nossa volta, eram especiais em nossa vida e muitas vezes mais que um irmão. Mas uma coisa não muda, quando estabelecemos uma relação de amizade com alguém ou quando estamos para conquistar uma amizade esse sentimento vem sempre carregado de muita idealização. Tão logo a amizade se estabelece desenhamos o perfil do amigo e vimos nele exemplo de lealdade, honestidade, caráter, moral, ética, educação, solidariedade, companheirismo, inteligência, bondade, idealizamos assim, fazemos esse perfil e logo começamos a cobrar tudo isso.
        Na verdade estas qualidades exigidas fazem parte do pacote de exigências para que possamos abrir as portas da nossa intimidade para alguém que vai fazer parte da nossa vida. Mas infelizmente depois de muitos fracassos e frustrções chegamos a conclusão que o amigo que idealizamos,  embora não cutemos a admitir, é impossível de existir.
      Deve ser por isso que as amizades muitas vêzes duram tão pouco, mal começam e lá vem as decepções: "fulano(a) não era o que eu pensava"!!! Precisamos nos permitir conviver com pessoas normais ao invés de seres perfeitos pois assim, quem sabe, possamos conquitar amizades mais duradouras,
      Devido a esse nosso perverso costume de idealizar amigos vivemos sob tensão permanente, estamos sempre na expectativa de sermos "sacaneados" por alguém. Eu tive sorte com amigos, pessoas inesquecíveis que deixaram grandes recordações para minha vida, talvez porque nunca fui de selecionar amizades, aceitei alguns "defeitos de fábrica" de amigos para poder conserválos.
       O Moacir foi um grande amigo, era crente e eu o estimava muito. Trabalhávamos num restaurante de beira de estrada no Rio de Janeiro e eu confiava nele. Por conta do ótimo atendimento que procurava prestar aos clientes sempre faturei muitas gorgetas e esse meu grande amigo surrupiava uma boa parte delas quando me "ajudava" limpar as mesas da minha praça. Até que um dia... descobri esse lado sombrio do Moacir. Todo mundo ficou sabendo porque tivemos uma séria discussão no intervalo, os colegas acharam  que o Moacir merecia umas porradas mas fui contra todas as espectativas e continuamos amigos. Apenas  não considerei mais a necessidade de me ajudar a limpar as mesas na praça que eu atendia.
    Continuamos a amizade, um frequentando a casa do outro, ser amigo do Moacir tinha lá suas vantagens, a mãe dele fazia uns bolinhos de carne que era uma loucura. O Moacir era uma figura, gostava de contar vantagens sobre namoradas, todas eram lindas mesmo que fossem o inverso, ficava horas penteando o cabelo antes de sair de casa, tinha bom humor e era um grande contador de piadas, tudo dentro da moral.  
    O Moacir orava várias vezes por dia e me incluia sempre nas orações à mesa, enfim, era ótima companhia, porque eu iria perder tudo isso e virar seu inimigo? Ele era um tremendo pão duro e, portanto, dinheiro era sua fraqueza. 
     Outro amigo importante foi o Cleber cujo maior defeito era beber demais e era o contrário do Moacir, estava sempre de péssimo humor e de mal com a vida. Segundo ele próprio por causa de uma separação traumática causada pela infidelidade da esposa que ele amara muito. Cleber adora me alugar o ouvido principalmente depois de uma pinga quando ficava resmungando: - Manéu, meu amigo, sabe o que eu sou? Eu sou um chifrudo, um chifrudo!!! Os amigos perguntavam como é que eu aguentava o Cleber, suas bebedeiras, resmungos e choradeiras mas é que um dia ele me tocou profundamente dizendo que eu era o  único amigo que tivera na vida, a pessoa nesse mundo que confiava mais que a um irmão de sangue.
        Isso me bastou para que selássemos um pacto de amizade eterna. Cleber, além de amigo, era um excelente  guarda costas, tinha aquela cara de bebê chorão, olhos e pálpebras inchadas, metro e noventa de altura e 130 kg de músculos e topava qualquer parada para defender um amigo. Um dia, estávamos bebericando num bar quando dei de cara com um desafeto, era o ex da minha namorada. Para me provocar o sujeito passou por mim e derrubou o copo de cerveja na minha camisa "volta ao mundo" o que me deixou muito furioso, pedi briga na hora mesmo sabendo que levar uma senhora surra. Chamei o cara de merda. Tudo aconteceu em segundos, o negão avançou na minha direção com os punhos cerrados e eu já estava vendo minha cara inchada de porrada, foi quando o Cleber se meteu entre nós dois e disse: "Bater no meu amigo aqui só passando por cima do meu cadáver", em seguida o braço e a mãozorra enorme do Cleber voaram na direção do sujeito que não teve nem tempo de se defender, no momento seguinte a única coisa que deu para ver foi o cara esticado no chão. Assim era o Cleber.
        Conheci o Pereira, outro amigo, na Escola de Hotelaria do Senac, Rio de Janeiro. Pereira era chegado num baseado, fumava maconha numa época que fazer isso significava suicídio social, as pessoas evitavam olhar os usuários dessa droga e, apesar de sempre ouvir de minha mãe "diga-me com quem tu andas que direi quem tu és" fiquei grande amigo do Pereira. Ele tinha pinta de galã de cinema e era bom de papo com as meninas, eu, modéstia à parte, nunca fui feio mas a timidez atrapalhava quando estava afim de namorar alguma garota. Pereira facilitava tudo, era sem vergonha e descarado, fazia logo amizade com as meninas e me apresentava para a garota que eu estava afim de namorar. Depois da formatura cada um seguiu seu caminho mas cinco anos depois encontrei o Pereira no centro da cidade, casado, todo bobo com um moleque no colo passeando com a mulher. Ele disse que havia conseguido se livrar do vício graças a mulher, escreveu seu endereço num papel mas nunca mais nos encontramos.
      Por causa dessa minha mania de arrumar amigos "complicados" minha  mãe sempre dizia que eu tinha dedo podre mas que fazer? Se não é assim não se arruma amigo.
     Quer um amigo para todas as horas e que nunca vai decepcionar? Arrume um bichinho de estimação, cachorro, gato, periquiro, etc. não falha.   





     
         

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

FILHOS, EDUCAÇÃO E LIMITES

        Outro dia estava no Bistek fazendo compras com minha esposa, tudo ia muito bem até vermos uma cena chocante, um moleque de uns quatro, cinco anos, chutava selvagemente as canelas, hora da mãe, hora da vó e ambas executavam um verdadeiro bailado para fugir da fúria e dos chutes do capetinha. A mulher dizia: - a mãe não pode comprar esse carrinho de controle remoto, é muito caro, mas o guri queria por que queria aquele objeto de desejo dele e investia furiosamente contra as senhoras. Não preciso dizer que o sangue ferveu nas veias, que vontade de ir lá e...mas pensando melhor me dei conta  que não era uma boa, as duas mulheres vítimas daquele sadicozinho seriam as primeiras a me escorraçar por intromição na vida alheia. Seguimos nosso caminho, minha esposa e eu. Pouco depois, na fila do caixa, encontramos novamente  as duas senhoras e o menino, todo faceiro, todo sorrisos, com seu carrinho de controle remoto.
       Esse é o quadro atual da educação que os pais dão a seus filhos seja lá pelo motivo que for. As crianças estão impondo suas vontades, e, não raramente, agem como verdadeiros ditadores de calças curtas, humilhando, constrangendo suas vítimas até conseguirem o que querem. Dá uma vontade louca de puxar com bastante força as orelhinhas de um moleque desses, não dá? Contudo, o trágico nessa relação cujos pais são vítimas de seus filhos é que as vítimas, os pais, é que são os culpados. Criança não nasce mal educada, agressiva, impertinente nem teimosa, ela aprende a ser assim em casa, junto a família. Eu não posso imaginar uma boa formação infantil sem esses dois norteadores: o bom exemplo e os limites. Eu também não posso imginar uma boa educação se os pais pensarem que os filhos vão aprender sozinhos a serem educados. E tem mais, pais displicentes falam que a criança é assim, teimosa, porque puxou o avô, ou a mãe ou ele próprio, "é igualzinho a mim quando era criança" e essa é outra forma torta de educar, de lavar as mãos na tão dificil quanto complexa tarefa de educar .
       Não preciso enumerar quais são os bons exemplo que os pais devem passar para seus filhos  mas posso afirmar sem medo de errar qual é a palavra mágica para estabelecer limites necessários para uma boa formação, essa palavra mágica é NÃO. Não estou dizendo que sempre tem que ser não, a busca pelo equilíbrio entre sim e não é a tarefa imposta para moldar um bom caráter, para criar uma atmosfera familiar de ações pautadas no bom senso. Aquela mãe do supermercado Bistek agiu corretamente  quando disse para o filho que não podia comprar o carrinho por ser caro demais, estava justificando o NÃO, mas se equivocou completamente quando se rendeu às pressões da criança.
     Educar significa negociar com os filhos e estabelecer as regras familiares, regras que as crianças devem seguir senão se tornam inócuas. Contudo, a criança deve ter compreensão de que as regras tem como fundamento a busca do que é melhor para ela, por exemplo, se os pais estabelecem um horário para o filhos dormirem ou ficar frente ao computador, ao mesmo tempo devem explicar que criança para ter boa saúde precisa de dormir doze horas de sono, ou que a exposição muito tempo frente a tela do computador prejudica a visão, coluna, etc. Educar exige, acima de tudo, justiça, ou seja, as regras devem valer para todos obedecendo, é claro, a idade dos filhos. Não existe nada que machuque mais um ser humano que o sentimento de injustiça e a criança não é diferente. Pais de verdade não  elegem entre seus filhos seu filhinho queridinho, o NÃO deve valer para todos, indistintamente.         
       Hoje em dia o que mais se ouve é que está muito caro manter uma família, é verdade, mas você amiga, amigo, que está planejando aumentar a família, tenha em mente que o lado financeiro é o que menos importa na criação de um filho. Podes dar uma vida confortável para ele, mimá-lo com todos os presentes, atender suas necessidades materiais e, mesmo assim, não impedir que seja uma criança infeliz e um adulto inseguro. Bons exemplos, justiça nas regras e limites não só educam como formam mentes equilibradas e felizes, o resto é figuração.       

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O AMOR, O QUE É O AMOR?

                
                                 
         Vou começar este texto me perguntando até onde vai a falta de amor entre as pessoas no momento em que vejo no noticiário da Globo que, numa dessas cidades do interior, um homem havia assassinado a mulher a machadadas. O sujeito foi preso em flagrante e, em depoimento, afirmou que matou por amor, a esposa não queria mais nada com ele que a amava demais, não suportava a idéia de perdê-la. Matou-a.   
        Nos romances o personagem mata a mulher amada e depois se suicida mas na vida real isso quase nunca ocorre. Fiquei em frente da televisão pasmado e pensando como hoje em dia se mata por ( amor )? E a merda é que quase todo dia tem gente matando ou morrendo por amor. Em primeiro lugar não acredito quem um assassino esteja em plena posse de seus sentimentos amorosos quando está espetando impiedosamente sua vítima pelo contrário, são os seus sentimentos de ódio mais enraizados e profundos  que estão ali presentes na tragédia. Deixemos então bem claro que o amor nada tem a ver com esses crimes, apenas servem de justificativa para que os algozes os executem. Absorto, meus pensamentos me conduzem a um emaranhado de dúvidas mas a certeza que se insere perfeitamente no contexto do caso em questão é: Mata-se tanto por amor, mas quando se mata não é amor, é ódio, sendo assim, que sentimento é esse, o amor?
       Desde que nascemos ouvimos o verbo amar conjugado em todos os tempos. O amor está escrito nas poesias, nos sermões na igreja, nos cultos, nas músicas do Roberto principalmente. Longe de mim querer contrariar o Rei, mas não posso deixar de imaginar certas coisas com relação ao amor, por exemplo, quantas pessoas sofrem por amor, nesse momento, no Brasil e no mundo inteiro? Em nome do amor quantos já morreram, quanto já mataram suas namoradas, esposas ou amantes? Quantos se suicidaram por causa de um amor perdido ou não correspondido? Quanto de traição e falsidade permeiam as relações amorosas na luta e conquistas entre homens e mulheres em busca do dito amor? É muita coisa ruim por trás de tão nobre sentimento não acham? É por essa e por outras que eu ando com a pulga atrás da orelha com relação a esse substantivozinho abstrato chamado AMOR. No meu entendimento a culpa primeiramente é dos traumaturgos e poetas que, muito convenientemente para eles inventaram, endeusaram e glorificaram o termo AMOR para dar substância a seus romances escritos em prosa e verso.
        A glorificação do amor é, desde sempre, percebida nos escritos poéticos, nos capítulos de romances e no cenário das tramas teatrais e cinematográficos e foi sutilmente infiltrado para dentro do contexto das relações entre o homem e a mulher. Dessa forma eu me permito deduzir o seguinte: a escrita é uma construção humana, logo antes de ser criado o termo as pessoas se conheciam e construiam suas relações sem dizer te AMO!!! Nesse tempo as pessoas não morriam nem matavam por amor, quem sabe por sexo sem romance e sem frescura.  Tanto é verdade que depois da invenção do amor dizer que eu gosto, dizer que tenho carinho já não é a mesma coisa que dizer te amo, não tem o mesmo apelo sentimental. Bons eram aqueles tempos em que o homem tascava uma porretada na moleira da escolhida e a arrastava profundamente adormecida para sua caverna para viverem felizes para sempre. Depois surgiu a escrita, o teatro, a poesia, os romances em prosa e verso e, finalmente, O AMOR. Com amor poetas e artistas de todas as artes deram início as grandes obras e jornadas literárias carregadas de sentimentos de afeto, de luxúria, de discórdia, de ódio, de paixão, de juramentos, traições e outras falsidades moldando nos personagens a figura do heroi ou do bandido seja homem ou mulher.
      Poetas e romancistas narram todo tipo de histórias que discorrem sobre as indiossincrasias inerentes ao ser humano, nelas o amor adquire variadas formas mas sempre com aquela suave aura de mistério, de doce sentimento que, dependendo da situação, pode ter o sabor  do mel ou sabor amargo do fel.
    No aspecto gramatical da palavra AMOR podemos observar que é silabicamente muito bem articulada, é um conjunto de quatro letras fáceis de pronunciar: A+M+O+R. Outra sutileza do termo está relacionado a relatividade do termo, a proposital dificuldade de lhe encontrar um significado definitivo, quem nunca se viu na dificuldade de encontrar um significado para o termo AMAR? Fiz essa pergunta certa vez para amigos e amigas e observei que sempre começavam assim: o amor...bem...sei lá....acho que ... de certeza mesmo ninguém sabe e se não sabemos o que signidfica o que é AMOR como podemos saber o que significa estar amando ( ou não )?
       Que AMOR é a palavra mais repetida na literatura isso todo sabe, é ler um romance, uma poesia, um conto para perceber isso além do mais e como já disse AMOR compõe as tintas das obras de arte, das poesias e dos romances, está inserido nos sermões e cultos religiosos, nos discursos políticos, nem as receitas culinárias lhe escapam, não se diz que tudo que é feito com amor tem mais sabor? Então, como não poderia deixar de ser, esse substantivozinho abstrato de tanto ser glorificado passou a ser ingrediente principal e fundamental na busca da felicidade, sem amor ninguém pode ser feliz e ponto final.
       É incrível como as pessoas falam que amam. O amor está expresso em todo lugar e em todos os idiomas e, indistintamente, em todas classes sociais. Fico pensando o que seria se ninguém tivesse criado essa expressão AMOR para exprimir sentimento que sentimos por alguém especial em nossas vidas. Seríamos menos felizes? Na verdade desde que nascemos estamos fadados a viver na busca por um amor e loucos para dividir este sentimento com alguém, este sentimento abstrato mas que nos apresentaram como tão denso, sentimento eqüidistante que pode estar em qualquer lugar ou ao nosso lado, pode até ser uma sombra nos acompanhando pela vida inteira sem que a percebamos, sem que, oh, má sorte, nunca o encontremos.
       Por amor se mata, por amor se morre tanto nos romances como na vida real e eu fico imaginando cá com meus botões se não seria melhor viver numa boa com a pessoa que escolhemos para viver ao nosso lado mas com os pés mais no chão e menos nas nuvens? Diferentemente de nós, os normais, o artista precisa do AMOR como necessita do ar para viver, afinal, o que seria de um poeta ou de um artista se não existisse o amor em suas vidas e em suas cabeças esvoaçantes? Mas para quem não é do ramo que diferença faz que o amor exista ou não? Sem amor em nossas vidas, pelo menos quem mata por amor já não teria como justificar a sua barbárie. 
      Mas por favor não confundir, não se trata de viver sem carinho, sem afeto mas de largar dessa mania que temos de romancear tudo que vivemos. Nós, os normais, precisamos é de trabalhar, produzir, sermos felizes, quem sabe sem o amor da nossa vida, sem romance, mas com parceiros(as) que nos dêem apoio que precisamos nas horas difíceis, carinho quando estamos carentes e, com um pouco de sorte, que nos acompanhem para sempre nesse lapso de tempo que vivemos aqui na terra.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O CARNAVAL DEVE ACABAR?

        Devemos ouvir e analisar o que os humoristas dizem de improviso sempre com muita cautela. A grande maioria são piores que personagens de desenho animado sem graça e quando abrem a boca para falar ou escrever só sai merda mesmo. O Danilo Gentile é um desses humoristas de programas tipo porra louca que viscejam na televisão e fazem sucesso com a turminha igualmente porra louca. Outro dia ele escreveu que o carnaval deveria acabar "para o bem da nação", o texto dizia o seguinte:
      "Queria ser presidente por um dia. Faria uma lei que anulasse o carnaval em prol da nação. Argumentos lógicos não me faltam: Diminuição de acidentes; menor índice de HIV positivo; melhorar imagem do país no exterior; cortar semana ociosa para que aumentemos nossa renda; valorizar a imagem da mulher brasileira; investir os 2 bilhões por ano do carnaval em educação; diminuir consumo de drogas nesse período...Acho que não teria o apoio popular pra isso. Já tivemos presidentes que afundaram a educação, a habitação, a reforma agrária, a inflação, a renda familiar, os empregos, e até mesmo presidente que roubou nossa poupança. Ninguém reclamou. Porém se eu acabasse com o carnaval certamente me matariam. Mesmo sabendo o risco que corro, aceitaria essa missão suicida, afinal, é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval desse pais." Danilo Gentili
    Muita gente deve ter aplaudido esse amontoado de asneiras que ele escreveu mas muita gente detestou principalmente quem gosta da festa. Ao tomar conhecimento das declarações de Gentili, o presidente da Portela, Nilo Figueiredo, alegou o seguinte:  - Eu pergunto se esse sujeito gosta de Carnaval. Ele é contra o Carnaval? Como ele publica esse absurdo sem procurar a verdade? Esse dinheiro não é público! Se a gente não arruma dinheiro, o que a gente faz? O Carnaval acaba? É um absurdo!
       Assessor de imprensa da Grande Rio, outra escola destruída pelo fogo, Avelino Ribeiro classificou como “infeliz” a declaração de Gentili. - Ele deveria conhecer o mundo do samba, antes de sair falando isso. As escolas mantêm centenas de famílias que vivem da geração de renda do Carnaval o ano inteiro. Ribeiro lembrou que o Carnaval é uma das mais importantes fontes de renda do Rio, que vem do turismo que a festa atrai. Ele ainda ressaltou que a Grande Rio sempre está ligada a ações sociais. - Terminamos, recentemente, de fazer um mutirão de arrecadação para as vítimas das enchentes na região serrana do Rio, além de sempre fazermos oficinas educativas e ajudarmos os jovens a entrarem no mercado de trabalho.
    De minha parte, apesar de não ser grande fã de carnaval não acho que deva acabar, não pelos motivos que Danilo Gentile descreveu. Não vamos acabar ou diminuir as mortes no trânsito, o consumo de drogas e bebidas, nem os índices de HIV positivo e muito menos vamos valorizar mais a mulher acabando com o carnaval e outras festas populares, essas questões fazem parte de um processo de conscientização, de compreenção do que é mais saudável no sentido de melhorar nossa qualidade de vida. Eu temo que, uma idéia dessas, se aceita pela sociedade, possa causar efeito em cascata e, em nome de uma causa qualquer se ponha fim a diversos outros divertimentos humanos que servem para alegrar, principalmente, nossos fins de semana. .   

A QUESTÃO DA FÉ

  
     
         Segundo pesquisas no mundo vivem mais de sete bilhões de pessoas e seis bilhões são adeptos das mais diversas religiões existentes no planeta. São Católicos, Protestantes, Anglicanos, Ortodoxos, Muçulmanos, Hinduístas, Budistas, Judeus, Espíritas, Confucionistas, Xintoís, Taoístas que acreditam num deus, alguma divindade ou força espiritual superior.
           A questão da fé geralmente passa pelo histórico familiar e social, somos influenciados a acreditar em deus e aprendemos a ter fé seguindo as tradições religiosas de nossos avós, nossos pais, nossos tios e por aí vai. Não podemos fugir desse enredo cultural que nos leva a repetir e consolidar a crença, a maneira de agir, de se comportar, de se alimentar, de se divertir de nossa gente, do nosso povo. É claro que nada é cem por cento nesse mundo e  muitas vezes esse aprendizado cultural não ocorre, por exemplo, numa família tradicionalmente católica um membro decide pelo budismo. Nesses casos as interações espirituais extras familiares mais convincentes levaram o sujeito a mudar sua opinião e crença. 
       Pensando nesses seis bilhões de adeptos pelo mundo inteiro me ponho a imaginar quantos são cristãos na prática, quantos se dizem cristãos mas nunca entraram numa igreja para rezar, ou num templo para orar, quantos afirmam sua fé para todo mundo ouvir mas quantos realmente acreditam na existência de um deus? Na verdade, as pesquisas se baseiam no depoimento verbal das pessoas e não pode ser diferente, seria impossível aos pesquisadores percorrer templos e igrejas do mundo inteiro e contar os fiéis que nelas realmente comparecem. O que eu quero dizer é que se as pessoas pudessem ou quizessem falar francamente sobre suas convicções na vida seria muito menor o número de adeptos dessas comunidades religiosas  do que afirmam as pesquisas. 
        Sou absolutamente favorável que as pessoas tenham sua fé, desde que, assim, sejam felizes. Acredito que não se deve corromper esse princípio sagrado das pessoas que é professar sua fé mas também creio na contrapartida, o direito que o sujeito tem de não acreditar na existência de um deus criador para tudo que existe. Eu, por exemplo, não acredito e não foi por falta de "boas influências" afinal nasci em família católica e estudei minha infância e parte da adolescência em colégio interno administrado pelos padres Palotinos, em Santa Maria. 
         Se tivesse que dar um conselho diria que muita gente deveria fazer um bom exame de consciência, conhecer melhor a sí mesmo, parar de se enganar, de mentir para quem está à sua volta, parar com essa coisa de achar que ter fé ou dizer que a tem a faz melhor e mais feliz, que se abdicar da fé será infeliz, nada disso. Eu sou feliz assim, não acreditando e verdadeiro comigo mesmo sem me importar muito com os outros. 
         Quando, pouco tempo atrás, por conta de uma interveição cirúrgica, fiquei numa UTI de hospital e no limiar entre a vida e a morte, nunca me passou pela cabeça chamar padre, pastor ou quem quer que seja porque acredito que nenhum deles poderia passar um mata borrão no meu currículo de vida e me encaminhar para campos mais verdejantes do andar de cima porque também não acredito nesse perdão divino de última hora. 
       Acho até que um dos paradoxos religiosos que me deixa mais pasmado é o da confissão. Simplesmente não me entra na cabeça que um sujeito  que tenha levado uma vida errante, foi desonesto, imoral, violento, depravado, falso, egoísta, racista, preconceituoso, foi mau pai, mau filho, mau marido, mau profissional, enfim, um bestalhão, um dia morre e, ao invés de ir direto para os quintos do inferno o que acontece? Obtem uma salvação de última hora pois quando já está quase batendo as bielas confessa os pecados e pede ao criador perdão dos seus pecados. Ora bolas, e as pessoas decentes, honestas, que foram para o andar de cima por merecimento como é que ficam? É um paradoxo para mim mas não é para quem tem fé, para ele a questão se resume em acreditar e não questionar porque deus sabe o que faz e porque faz as coisas serem assim. 
         Penso que, qual seja a religião, o que católicos, protestantes, anglicanos, ortodoxos, muçulmanos, hinduístas, budistas, judeus, espíritas, confucionistas, xintoís e taoístas deveriam ter em mente é que, em qualquer das hipóteses, seja da existência de um criador ou não, seja de existir vida após a morte ou não existir, trilhar uma vida decente sempre será o melhor caminho. E um aviso, é bom abrir bem os olhos, principalmente aqueles que ameaçam ateus com o fogo do inferno ou coisa pior, se não andarem bem nos trilhos da vida, não há religião ou crença que os salve.
           Um amigo, certa vez, perguntou se eu não temia a morte e a vida depois dela, respondi sinceramente não e sabe por quê? Porque em qualquer das hipóteses, existindo deus ou não, existindo vida após a morte ou não, tudo depende daqui, do que fazemos na vida terrena e é nisso que se baseia a minha fé.