sábado, 10 de março de 2012

O AMIGO QUE IDEALIZAMOS NÃO EXISTE...

 

 


      Quando falamos em amigos, amizades, tudo pode ser muito relativo, por exemplo, os amigos que adicionamos no orkut, facebook e outras redes sociais no maior das vezes mal conhecemos, são amigos dos amigos dos amigos.
        Amizade em outros tempos era relação permitida apenas a um seleto número de pessoas á nossa volta, eram especiais em nossa vida e muitas vezes mais que um irmão. Mas uma coisa não muda, quando estabelecemos uma relação de amizade com alguém ou quando estamos para conquistar uma amizade esse sentimento vem sempre carregado de muita idealização. Tão logo a amizade se estabelece desenhamos o perfil do amigo e vimos nele exemplo de lealdade, honestidade, caráter, moral, ética, educação, solidariedade, companheirismo, inteligência, bondade, idealizamos assim, fazemos esse perfil e logo começamos a cobrar tudo isso.
        Na verdade estas qualidades exigidas fazem parte do pacote de exigências para que possamos abrir as portas da nossa intimidade para alguém que vai fazer parte da nossa vida. Mas infelizmente depois de muitos fracassos e frustrções chegamos a conclusão que o amigo que idealizamos,  embora não cutemos a admitir, é impossível de existir.
      Deve ser por isso que as amizades muitas vêzes duram tão pouco, mal começam e lá vem as decepções: "fulano(a) não era o que eu pensava"!!! Precisamos nos permitir conviver com pessoas normais ao invés de seres perfeitos pois assim, quem sabe, possamos conquitar amizades mais duradouras,
      Devido a esse nosso perverso costume de idealizar amigos vivemos sob tensão permanente, estamos sempre na expectativa de sermos "sacaneados" por alguém. Eu tive sorte com amigos, pessoas inesquecíveis que deixaram grandes recordações para minha vida, talvez porque nunca fui de selecionar amizades, aceitei alguns "defeitos de fábrica" de amigos para poder conserválos.
       O Moacir foi um grande amigo, era crente e eu o estimava muito. Trabalhávamos num restaurante de beira de estrada no Rio de Janeiro e eu confiava nele. Por conta do ótimo atendimento que procurava prestar aos clientes sempre faturei muitas gorgetas e esse meu grande amigo surrupiava uma boa parte delas quando me "ajudava" limpar as mesas da minha praça. Até que um dia... descobri esse lado sombrio do Moacir. Todo mundo ficou sabendo porque tivemos uma séria discussão no intervalo, os colegas acharam  que o Moacir merecia umas porradas mas fui contra todas as espectativas e continuamos amigos. Apenas  não considerei mais a necessidade de me ajudar a limpar as mesas na praça que eu atendia.
    Continuamos a amizade, um frequentando a casa do outro, ser amigo do Moacir tinha lá suas vantagens, a mãe dele fazia uns bolinhos de carne que era uma loucura. O Moacir era uma figura, gostava de contar vantagens sobre namoradas, todas eram lindas mesmo que fossem o inverso, ficava horas penteando o cabelo antes de sair de casa, tinha bom humor e era um grande contador de piadas, tudo dentro da moral.  
    O Moacir orava várias vezes por dia e me incluia sempre nas orações à mesa, enfim, era ótima companhia, porque eu iria perder tudo isso e virar seu inimigo? Ele era um tremendo pão duro e, portanto, dinheiro era sua fraqueza. 
     Outro amigo importante foi o Cleber cujo maior defeito era beber demais e era o contrário do Moacir, estava sempre de péssimo humor e de mal com a vida. Segundo ele próprio por causa de uma separação traumática causada pela infidelidade da esposa que ele amara muito. Cleber adora me alugar o ouvido principalmente depois de uma pinga quando ficava resmungando: - Manéu, meu amigo, sabe o que eu sou? Eu sou um chifrudo, um chifrudo!!! Os amigos perguntavam como é que eu aguentava o Cleber, suas bebedeiras, resmungos e choradeiras mas é que um dia ele me tocou profundamente dizendo que eu era o  único amigo que tivera na vida, a pessoa nesse mundo que confiava mais que a um irmão de sangue.
        Isso me bastou para que selássemos um pacto de amizade eterna. Cleber, além de amigo, era um excelente  guarda costas, tinha aquela cara de bebê chorão, olhos e pálpebras inchadas, metro e noventa de altura e 130 kg de músculos e topava qualquer parada para defender um amigo. Um dia, estávamos bebericando num bar quando dei de cara com um desafeto, era o ex da minha namorada. Para me provocar o sujeito passou por mim e derrubou o copo de cerveja na minha camisa "volta ao mundo" o que me deixou muito furioso, pedi briga na hora mesmo sabendo que levar uma senhora surra. Chamei o cara de merda. Tudo aconteceu em segundos, o negão avançou na minha direção com os punhos cerrados e eu já estava vendo minha cara inchada de porrada, foi quando o Cleber se meteu entre nós dois e disse: "Bater no meu amigo aqui só passando por cima do meu cadáver", em seguida o braço e a mãozorra enorme do Cleber voaram na direção do sujeito que não teve nem tempo de se defender, no momento seguinte a única coisa que deu para ver foi o cara esticado no chão. Assim era o Cleber.
        Conheci o Pereira, outro amigo, na Escola de Hotelaria do Senac, Rio de Janeiro. Pereira era chegado num baseado, fumava maconha numa época que fazer isso significava suicídio social, as pessoas evitavam olhar os usuários dessa droga e, apesar de sempre ouvir de minha mãe "diga-me com quem tu andas que direi quem tu és" fiquei grande amigo do Pereira. Ele tinha pinta de galã de cinema e era bom de papo com as meninas, eu, modéstia à parte, nunca fui feio mas a timidez atrapalhava quando estava afim de namorar alguma garota. Pereira facilitava tudo, era sem vergonha e descarado, fazia logo amizade com as meninas e me apresentava para a garota que eu estava afim de namorar. Depois da formatura cada um seguiu seu caminho mas cinco anos depois encontrei o Pereira no centro da cidade, casado, todo bobo com um moleque no colo passeando com a mulher. Ele disse que havia conseguido se livrar do vício graças a mulher, escreveu seu endereço num papel mas nunca mais nos encontramos.
      Por causa dessa minha mania de arrumar amigos "complicados" minha  mãe sempre dizia que eu tinha dedo podre mas que fazer? Se não é assim não se arruma amigo.
     Quer um amigo para todas as horas e que nunca vai decepcionar? Arrume um bichinho de estimação, cachorro, gato, periquiro, etc. não falha.