quarta-feira, 9 de maio de 2012

A TENTATIVA DE ASSASSINATO DE UM CÃO

 
  
         Foi esse olhar que me desarmou completamente. Eu estava furioso, com ânsias de matar, queria pegar o Jack e fazê-lo pagar muito caro pelo estrago. Ele havia roido o registro da água (mais uma vez) e minha casa estava debaixo d'água, estava inundada.
      O esguicho que saia pelo cano estraçalhado era tão forte que mais parecia um chafariz de praça. Quando me viu sair do carro ele logo sentiu o clima e tratou de fazer aquela cara de paisagem como se nada tivesse a ver com o dilúvio. Procurei um pau pra bater nele mas não achei nenhum, como já falei eu queria assassinar o Jack o meu adorado cão da raça pit bull, ou faria isso ou teria um troço ali mesmo.   
     O sangue subira todo pra cabeça e eu estava tomado de fúria assassina, olhei em volta, dessa vez a procura de uma pedra, um ferro, sei lá, uma arma qualquer que me auxiliasse no cumprimento de meu intento que era deletar o Jack desse mundo e foi então que eu vi o martelo, peguei-o, era só mirar a testa e dar a cacetada. Jack naturalmente tentou fugir mas em vão pois a corrente que o prendia limitava seu espaço e então ficou encolhido, espremido junto ao chão aguardando pelo abate. 
     Quero deixar bem claro que meu gesto tresloucado ocorria por causa de uma sequência de destruição provocada pelo meu adorável cão da raça pit bull, a bem da verdade, Jack já havia destruído tantas coisas que só faltava mais uma gota para encher e transbordar o meu copo de sanidade. Caminhei decidido na direção dele para dar a martelada, bastaria uma só, bem no meio da testa e meus problemas acabariam. Mas foi então que eu cometi um erro fatal ao olhar para Jack. Não deveria ter olhado. Aquele olhar assustado e confuso me desarmou completamente porque pareciam dizer que, logrando meu intento depois me arrependeria amargamente. Estavam a me dizer que era apenas um animal de estimação, brincalhão, que gostava de roer coisas para exercitar os dentes fortes, o olhar de Jack transmitiam um medo imensurável, uma total confusão para o que, seguindo seu instinto canino, era um ato inexplicável da minha parte uma vez que não entendia o porquê de eu estar tão furioso com ele. Só porque havia roido uns canos que esguichavam água? Os olhos de Jack pareciam dizer: ponha-se no meu lugar e verás o quanto sou inocente e quanto injusto tens sido comigo toda vez que destruo alguma coisa dentro e fora da casa.
      Os olhos de Jack pareciam dizer tantas coisas que acabei jogando o martelo pra longe e, ao invés da martelada, me pus a acariciá-lo. Esse tipo de atitude tipicamente humana deve deixar os animais bastante convencidos da nossa insanidade mas o que eu fico a imaginar cá com meus botões depois disso tudo é que tipo de percepção nós, humanos, temos dos animais como seres vivos ocupando um espaço nesse mundo em que vivemos.
     Eu estou sinceramente convencido que, para muita gente, um cachorro correndo e uma pedra rolando não tem muita diferença e muitas vezes já me peguei pensando se na evolução das espécies, se no fato da inteligência do homem ter se desenvolvido e chegado ao nível que chegou não foi um senhor tiro no pé da mãe natureza. Vemos tanta devastação do meio ambiente, tantas maldades cometidas contra animais que até tenho dúvidas se merecemos o dom da inteligência já que a utilizamos muitas vezes de forma tão torpe, equivocada e destrutiva.
    Qual o problema se nós como outros animais tivéssemos o mesmo nível de desenvovimento intelectual? Provavelmente não teríamos sobrevivido a nossos predadores naturais e a raça humana teria se extinguido, menos mal, quantas barbáries certamente deixar-se-ia de cometer, por exemplo, nunca se viu um bicho jogar seu filhote de um precipício mas homem sim, ele é capaz de jogar uma criança do quinto andar de um prédio, humano inteligente mata, assassina seus animaizinhos de estimação (como eu quase ia fazendo) ou abandona-os...