sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

FILHOS, EDUCAÇÃO E LIMITES

        Outro dia estava no Bistek fazendo compras com minha esposa, tudo ia muito bem até vermos uma cena chocante, um moleque de uns quatro, cinco anos, chutava selvagemente as canelas, hora da mãe, hora da vó e ambas executavam um verdadeiro bailado para fugir da fúria e dos chutes do capetinha. A mulher dizia: - a mãe não pode comprar esse carrinho de controle remoto, é muito caro, mas o guri queria por que queria aquele objeto de desejo dele e investia furiosamente contra as senhoras. Não preciso dizer que o sangue ferveu nas veias, que vontade de ir lá e...mas pensando melhor me dei conta  que não era uma boa, as duas mulheres vítimas daquele sadicozinho seriam as primeiras a me escorraçar por intromição na vida alheia. Seguimos nosso caminho, minha esposa e eu. Pouco depois, na fila do caixa, encontramos novamente  as duas senhoras e o menino, todo faceiro, todo sorrisos, com seu carrinho de controle remoto.
       Esse é o quadro atual da educação que os pais dão a seus filhos seja lá pelo motivo que for. As crianças estão impondo suas vontades, e, não raramente, agem como verdadeiros ditadores de calças curtas, humilhando, constrangendo suas vítimas até conseguirem o que querem. Dá uma vontade louca de puxar com bastante força as orelhinhas de um moleque desses, não dá? Contudo, o trágico nessa relação cujos pais são vítimas de seus filhos é que as vítimas, os pais, é que são os culpados. Criança não nasce mal educada, agressiva, impertinente nem teimosa, ela aprende a ser assim em casa, junto a família. Eu não posso imaginar uma boa formação infantil sem esses dois norteadores: o bom exemplo e os limites. Eu também não posso imginar uma boa educação se os pais pensarem que os filhos vão aprender sozinhos a serem educados. E tem mais, pais displicentes falam que a criança é assim, teimosa, porque puxou o avô, ou a mãe ou ele próprio, "é igualzinho a mim quando era criança" e essa é outra forma torta de educar, de lavar as mãos na tão dificil quanto complexa tarefa de educar .
       Não preciso enumerar quais são os bons exemplo que os pais devem passar para seus filhos  mas posso afirmar sem medo de errar qual é a palavra mágica para estabelecer limites necessários para uma boa formação, essa palavra mágica é NÃO. Não estou dizendo que sempre tem que ser não, a busca pelo equilíbrio entre sim e não é a tarefa imposta para moldar um bom caráter, para criar uma atmosfera familiar de ações pautadas no bom senso. Aquela mãe do supermercado Bistek agiu corretamente  quando disse para o filho que não podia comprar o carrinho por ser caro demais, estava justificando o NÃO, mas se equivocou completamente quando se rendeu às pressões da criança.
     Educar significa negociar com os filhos e estabelecer as regras familiares, regras que as crianças devem seguir senão se tornam inócuas. Contudo, a criança deve ter compreensão de que as regras tem como fundamento a busca do que é melhor para ela, por exemplo, se os pais estabelecem um horário para o filhos dormirem ou ficar frente ao computador, ao mesmo tempo devem explicar que criança para ter boa saúde precisa de dormir doze horas de sono, ou que a exposição muito tempo frente a tela do computador prejudica a visão, coluna, etc. Educar exige, acima de tudo, justiça, ou seja, as regras devem valer para todos obedecendo, é claro, a idade dos filhos. Não existe nada que machuque mais um ser humano que o sentimento de injustiça e a criança não é diferente. Pais de verdade não  elegem entre seus filhos seu filhinho queridinho, o NÃO deve valer para todos, indistintamente.         
       Hoje em dia o que mais se ouve é que está muito caro manter uma família, é verdade, mas você amiga, amigo, que está planejando aumentar a família, tenha em mente que o lado financeiro é o que menos importa na criação de um filho. Podes dar uma vida confortável para ele, mimá-lo com todos os presentes, atender suas necessidades materiais e, mesmo assim, não impedir que seja uma criança infeliz e um adulto inseguro. Bons exemplos, justiça nas regras e limites não só educam como formam mentes equilibradas e felizes, o resto é figuração.       

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O AMOR, O QUE É O AMOR?

                
                                 
         Vou começar este texto me perguntando até onde vai a falta de amor entre as pessoas no momento em que vejo no noticiário da Globo que, numa dessas cidades do interior, um homem havia assassinado a mulher a machadadas. O sujeito foi preso em flagrante e, em depoimento, afirmou que matou por amor, a esposa não queria mais nada com ele que a amava demais, não suportava a idéia de perdê-la. Matou-a.   
        Nos romances o personagem mata a mulher amada e depois se suicida mas na vida real isso quase nunca ocorre. Fiquei em frente da televisão pasmado e pensando como hoje em dia se mata por ( amor )? E a merda é que quase todo dia tem gente matando ou morrendo por amor. Em primeiro lugar não acredito quem um assassino esteja em plena posse de seus sentimentos amorosos quando está espetando impiedosamente sua vítima pelo contrário, são os seus sentimentos de ódio mais enraizados e profundos  que estão ali presentes na tragédia. Deixemos então bem claro que o amor nada tem a ver com esses crimes, apenas servem de justificativa para que os algozes os executem. Absorto, meus pensamentos me conduzem a um emaranhado de dúvidas mas a certeza que se insere perfeitamente no contexto do caso em questão é: Mata-se tanto por amor, mas quando se mata não é amor, é ódio, sendo assim, que sentimento é esse, o amor?
       Desde que nascemos ouvimos o verbo amar conjugado em todos os tempos. O amor está escrito nas poesias, nos sermões na igreja, nos cultos, nas músicas do Roberto principalmente. Longe de mim querer contrariar o Rei, mas não posso deixar de imaginar certas coisas com relação ao amor, por exemplo, quantas pessoas sofrem por amor, nesse momento, no Brasil e no mundo inteiro? Em nome do amor quantos já morreram, quanto já mataram suas namoradas, esposas ou amantes? Quantos se suicidaram por causa de um amor perdido ou não correspondido? Quanto de traição e falsidade permeiam as relações amorosas na luta e conquistas entre homens e mulheres em busca do dito amor? É muita coisa ruim por trás de tão nobre sentimento não acham? É por essa e por outras que eu ando com a pulga atrás da orelha com relação a esse substantivozinho abstrato chamado AMOR. No meu entendimento a culpa primeiramente é dos traumaturgos e poetas que, muito convenientemente para eles inventaram, endeusaram e glorificaram o termo AMOR para dar substância a seus romances escritos em prosa e verso.
        A glorificação do amor é, desde sempre, percebida nos escritos poéticos, nos capítulos de romances e no cenário das tramas teatrais e cinematográficos e foi sutilmente infiltrado para dentro do contexto das relações entre o homem e a mulher. Dessa forma eu me permito deduzir o seguinte: a escrita é uma construção humana, logo antes de ser criado o termo as pessoas se conheciam e construiam suas relações sem dizer te AMO!!! Nesse tempo as pessoas não morriam nem matavam por amor, quem sabe por sexo sem romance e sem frescura.  Tanto é verdade que depois da invenção do amor dizer que eu gosto, dizer que tenho carinho já não é a mesma coisa que dizer te amo, não tem o mesmo apelo sentimental. Bons eram aqueles tempos em que o homem tascava uma porretada na moleira da escolhida e a arrastava profundamente adormecida para sua caverna para viverem felizes para sempre. Depois surgiu a escrita, o teatro, a poesia, os romances em prosa e verso e, finalmente, O AMOR. Com amor poetas e artistas de todas as artes deram início as grandes obras e jornadas literárias carregadas de sentimentos de afeto, de luxúria, de discórdia, de ódio, de paixão, de juramentos, traições e outras falsidades moldando nos personagens a figura do heroi ou do bandido seja homem ou mulher.
      Poetas e romancistas narram todo tipo de histórias que discorrem sobre as indiossincrasias inerentes ao ser humano, nelas o amor adquire variadas formas mas sempre com aquela suave aura de mistério, de doce sentimento que, dependendo da situação, pode ter o sabor  do mel ou sabor amargo do fel.
    No aspecto gramatical da palavra AMOR podemos observar que é silabicamente muito bem articulada, é um conjunto de quatro letras fáceis de pronunciar: A+M+O+R. Outra sutileza do termo está relacionado a relatividade do termo, a proposital dificuldade de lhe encontrar um significado definitivo, quem nunca se viu na dificuldade de encontrar um significado para o termo AMAR? Fiz essa pergunta certa vez para amigos e amigas e observei que sempre começavam assim: o amor...bem...sei lá....acho que ... de certeza mesmo ninguém sabe e se não sabemos o que signidfica o que é AMOR como podemos saber o que significa estar amando ( ou não )?
       Que AMOR é a palavra mais repetida na literatura isso todo sabe, é ler um romance, uma poesia, um conto para perceber isso além do mais e como já disse AMOR compõe as tintas das obras de arte, das poesias e dos romances, está inserido nos sermões e cultos religiosos, nos discursos políticos, nem as receitas culinárias lhe escapam, não se diz que tudo que é feito com amor tem mais sabor? Então, como não poderia deixar de ser, esse substantivozinho abstrato de tanto ser glorificado passou a ser ingrediente principal e fundamental na busca da felicidade, sem amor ninguém pode ser feliz e ponto final.
       É incrível como as pessoas falam que amam. O amor está expresso em todo lugar e em todos os idiomas e, indistintamente, em todas classes sociais. Fico pensando o que seria se ninguém tivesse criado essa expressão AMOR para exprimir sentimento que sentimos por alguém especial em nossas vidas. Seríamos menos felizes? Na verdade desde que nascemos estamos fadados a viver na busca por um amor e loucos para dividir este sentimento com alguém, este sentimento abstrato mas que nos apresentaram como tão denso, sentimento eqüidistante que pode estar em qualquer lugar ou ao nosso lado, pode até ser uma sombra nos acompanhando pela vida inteira sem que a percebamos, sem que, oh, má sorte, nunca o encontremos.
       Por amor se mata, por amor se morre tanto nos romances como na vida real e eu fico imaginando cá com meus botões se não seria melhor viver numa boa com a pessoa que escolhemos para viver ao nosso lado mas com os pés mais no chão e menos nas nuvens? Diferentemente de nós, os normais, o artista precisa do AMOR como necessita do ar para viver, afinal, o que seria de um poeta ou de um artista se não existisse o amor em suas vidas e em suas cabeças esvoaçantes? Mas para quem não é do ramo que diferença faz que o amor exista ou não? Sem amor em nossas vidas, pelo menos quem mata por amor já não teria como justificar a sua barbárie. 
      Mas por favor não confundir, não se trata de viver sem carinho, sem afeto mas de largar dessa mania que temos de romancear tudo que vivemos. Nós, os normais, precisamos é de trabalhar, produzir, sermos felizes, quem sabe sem o amor da nossa vida, sem romance, mas com parceiros(as) que nos dêem apoio que precisamos nas horas difíceis, carinho quando estamos carentes e, com um pouco de sorte, que nos acompanhem para sempre nesse lapso de tempo que vivemos aqui na terra.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O CARNAVAL DEVE ACABAR?

        Devemos ouvir e analisar o que os humoristas dizem de improviso sempre com muita cautela. A grande maioria são piores que personagens de desenho animado sem graça e quando abrem a boca para falar ou escrever só sai merda mesmo. O Danilo Gentile é um desses humoristas de programas tipo porra louca que viscejam na televisão e fazem sucesso com a turminha igualmente porra louca. Outro dia ele escreveu que o carnaval deveria acabar "para o bem da nação", o texto dizia o seguinte:
      "Queria ser presidente por um dia. Faria uma lei que anulasse o carnaval em prol da nação. Argumentos lógicos não me faltam: Diminuição de acidentes; menor índice de HIV positivo; melhorar imagem do país no exterior; cortar semana ociosa para que aumentemos nossa renda; valorizar a imagem da mulher brasileira; investir os 2 bilhões por ano do carnaval em educação; diminuir consumo de drogas nesse período...Acho que não teria o apoio popular pra isso. Já tivemos presidentes que afundaram a educação, a habitação, a reforma agrária, a inflação, a renda familiar, os empregos, e até mesmo presidente que roubou nossa poupança. Ninguém reclamou. Porém se eu acabasse com o carnaval certamente me matariam. Mesmo sabendo o risco que corro, aceitaria essa missão suicida, afinal, é melhor morrer no país do carnaval do que viver no carnaval desse pais." Danilo Gentili
    Muita gente deve ter aplaudido esse amontoado de asneiras que ele escreveu mas muita gente detestou principalmente quem gosta da festa. Ao tomar conhecimento das declarações de Gentili, o presidente da Portela, Nilo Figueiredo, alegou o seguinte:  - Eu pergunto se esse sujeito gosta de Carnaval. Ele é contra o Carnaval? Como ele publica esse absurdo sem procurar a verdade? Esse dinheiro não é público! Se a gente não arruma dinheiro, o que a gente faz? O Carnaval acaba? É um absurdo!
       Assessor de imprensa da Grande Rio, outra escola destruída pelo fogo, Avelino Ribeiro classificou como “infeliz” a declaração de Gentili. - Ele deveria conhecer o mundo do samba, antes de sair falando isso. As escolas mantêm centenas de famílias que vivem da geração de renda do Carnaval o ano inteiro. Ribeiro lembrou que o Carnaval é uma das mais importantes fontes de renda do Rio, que vem do turismo que a festa atrai. Ele ainda ressaltou que a Grande Rio sempre está ligada a ações sociais. - Terminamos, recentemente, de fazer um mutirão de arrecadação para as vítimas das enchentes na região serrana do Rio, além de sempre fazermos oficinas educativas e ajudarmos os jovens a entrarem no mercado de trabalho.
    De minha parte, apesar de não ser grande fã de carnaval não acho que deva acabar, não pelos motivos que Danilo Gentile descreveu. Não vamos acabar ou diminuir as mortes no trânsito, o consumo de drogas e bebidas, nem os índices de HIV positivo e muito menos vamos valorizar mais a mulher acabando com o carnaval e outras festas populares, essas questões fazem parte de um processo de conscientização, de compreenção do que é mais saudável no sentido de melhorar nossa qualidade de vida. Eu temo que, uma idéia dessas, se aceita pela sociedade, possa causar efeito em cascata e, em nome de uma causa qualquer se ponha fim a diversos outros divertimentos humanos que servem para alegrar, principalmente, nossos fins de semana. .   

A QUESTÃO DA FÉ

  
     
         Segundo pesquisas no mundo vivem mais de sete bilhões de pessoas e seis bilhões são adeptos das mais diversas religiões existentes no planeta. São Católicos, Protestantes, Anglicanos, Ortodoxos, Muçulmanos, Hinduístas, Budistas, Judeus, Espíritas, Confucionistas, Xintoís, Taoístas que acreditam num deus, alguma divindade ou força espiritual superior.
           A questão da fé geralmente passa pelo histórico familiar e social, somos influenciados a acreditar em deus e aprendemos a ter fé seguindo as tradições religiosas de nossos avós, nossos pais, nossos tios e por aí vai. Não podemos fugir desse enredo cultural que nos leva a repetir e consolidar a crença, a maneira de agir, de se comportar, de se alimentar, de se divertir de nossa gente, do nosso povo. É claro que nada é cem por cento nesse mundo e  muitas vezes esse aprendizado cultural não ocorre, por exemplo, numa família tradicionalmente católica um membro decide pelo budismo. Nesses casos as interações espirituais extras familiares mais convincentes levaram o sujeito a mudar sua opinião e crença. 
       Pensando nesses seis bilhões de adeptos pelo mundo inteiro me ponho a imaginar quantos são cristãos na prática, quantos se dizem cristãos mas nunca entraram numa igreja para rezar, ou num templo para orar, quantos afirmam sua fé para todo mundo ouvir mas quantos realmente acreditam na existência de um deus? Na verdade, as pesquisas se baseiam no depoimento verbal das pessoas e não pode ser diferente, seria impossível aos pesquisadores percorrer templos e igrejas do mundo inteiro e contar os fiéis que nelas realmente comparecem. O que eu quero dizer é que se as pessoas pudessem ou quizessem falar francamente sobre suas convicções na vida seria muito menor o número de adeptos dessas comunidades religiosas  do que afirmam as pesquisas. 
        Sou absolutamente favorável que as pessoas tenham sua fé, desde que, assim, sejam felizes. Acredito que não se deve corromper esse princípio sagrado das pessoas que é professar sua fé mas também creio na contrapartida, o direito que o sujeito tem de não acreditar na existência de um deus criador para tudo que existe. Eu, por exemplo, não acredito e não foi por falta de "boas influências" afinal nasci em família católica e estudei minha infância e parte da adolescência em colégio interno administrado pelos padres Palotinos, em Santa Maria. 
         Se tivesse que dar um conselho diria que muita gente deveria fazer um bom exame de consciência, conhecer melhor a sí mesmo, parar de se enganar, de mentir para quem está à sua volta, parar com essa coisa de achar que ter fé ou dizer que a tem a faz melhor e mais feliz, que se abdicar da fé será infeliz, nada disso. Eu sou feliz assim, não acreditando e verdadeiro comigo mesmo sem me importar muito com os outros. 
         Quando, pouco tempo atrás, por conta de uma interveição cirúrgica, fiquei numa UTI de hospital e no limiar entre a vida e a morte, nunca me passou pela cabeça chamar padre, pastor ou quem quer que seja porque acredito que nenhum deles poderia passar um mata borrão no meu currículo de vida e me encaminhar para campos mais verdejantes do andar de cima porque também não acredito nesse perdão divino de última hora. 
       Acho até que um dos paradoxos religiosos que me deixa mais pasmado é o da confissão. Simplesmente não me entra na cabeça que um sujeito  que tenha levado uma vida errante, foi desonesto, imoral, violento, depravado, falso, egoísta, racista, preconceituoso, foi mau pai, mau filho, mau marido, mau profissional, enfim, um bestalhão, um dia morre e, ao invés de ir direto para os quintos do inferno o que acontece? Obtem uma salvação de última hora pois quando já está quase batendo as bielas confessa os pecados e pede ao criador perdão dos seus pecados. Ora bolas, e as pessoas decentes, honestas, que foram para o andar de cima por merecimento como é que ficam? É um paradoxo para mim mas não é para quem tem fé, para ele a questão se resume em acreditar e não questionar porque deus sabe o que faz e porque faz as coisas serem assim. 
         Penso que, qual seja a religião, o que católicos, protestantes, anglicanos, ortodoxos, muçulmanos, hinduístas, budistas, judeus, espíritas, confucionistas, xintoís e taoístas deveriam ter em mente é que, em qualquer das hipóteses, seja da existência de um criador ou não, seja de existir vida após a morte ou não existir, trilhar uma vida decente sempre será o melhor caminho. E um aviso, é bom abrir bem os olhos, principalmente aqueles que ameaçam ateus com o fogo do inferno ou coisa pior, se não andarem bem nos trilhos da vida, não há religião ou crença que os salve.
           Um amigo, certa vez, perguntou se eu não temia a morte e a vida depois dela, respondi sinceramente não e sabe por quê? Porque em qualquer das hipóteses, existindo deus ou não, existindo vida após a morte ou não, tudo depende daqui, do que fazemos na vida terrena e é nisso que se baseia a minha fé.

A DITADURA DO RISO

     Tenho cinco filhos, três nasceram com o dom da graça, do riso e do bom humor. A Michelle, o Jacques e o Robson não perdem a piada por nada nesse mundo. Não são melhores nem piores que os outros dois irmãos, o Charles e o Jefferson, mas é da natureza deles espalhar bom humor por onde passam. Pensando nisso resolvi escrever alguma coisa sobre o que eu considero a ditadura do riso imposta injustamente às pessoas que não nasceram com esse dom e que por isso sofrem discriminação.
    Quem aqui já não ouviu ou quem sabe já não se manifestou sobre pessoas que não tem muito bom humor, que nunca ou quase nunca contam uma piada, que não alegram o ambiente no clube, no trabalho, no bar, etc. É sobre isso que eu quero falar e também perguntar: - onde está escrito que as pessoas tem essa obrigação, a de alegrar certos ambientes? Quem tem essa obrigação, a de espalhar o riso, alegria e bom humor são os humoristas profissionais, até porque são bem pagos para isso. Aí eu fico pensando se essas pessoas que não toleram ambiente sério e defenestram os ditos "chatos sérios" do seu meio se elas são felizes de verdade ou se procuram nos outros o que não conseguem de sí próprios -  um pouco de felicidade.
     Vivemos numa sociedade em que as pessoas, na sua grande maioria, colocam defeitos e virtudes numa balança e fazem com que a mesma penda sempre para o lado pior, ou seja, percebem apenas os defeitos e desprezam as virtudes das pessoas em sua volta, tem os que selecionam os amigos pela cor da pele, tem os que miram seus pares com olhar seletivo do cifrão e não preciso dizer mais nada sobre essa gente, tem os que são escravos da estética, da beleza, do corpo bonito e não valorizam nas pessoas o sentimento, os princípios éticos, a solidariedade, a bondade, a sinceridade, não se importam o quão fútil a pessoa seja, importa que seja "bonita"...Só que, depois dessas más  escolhas que fazem pela vida, não encontram o que, à priori, é o que buscamos e desejamos – a felicidade.
    Eu, francamente, repudio a ditadura do riso e acho que é um erro distribuir felicidade por atacado e   varejo. Entendo que a única coisa que devemos às pessoas a nossa volta é boa educação e respeito. E essas pessoas que nasceram com o dom da graça, do bom humor, que alegram ambientes, deviam cobrar por seus honorários. Estou exagerando com certeza mas não acho justo  alegrar gratuitamente o ambiente de gente que não é feliz porque não escolheu amar seu próximo.

MÁ EDUCAÇÃO

    Sei que alguém pode pensar que por conta dos meus 6.2 anos de idade eu esteja querendo legislar em causa própria mas vou correr esse risco. A reflexão de hoje é sobre a educação de antigamente e a de hoje. A impressão que se tem é que, antigamente, quando não haviam surgido ainda os ícones do capitalismo no Brasil, representados pelo consumismo, pelos supermercados, hipermercados e shoppings, as pessoas eram, ou pareciam ser, relativamente mais bem educadas, digo, relativamente, porque a figura do mal educado(a) sempre existiu e faz parte da paisagem desde que o mundo é mundo. Mas é bom lembrar que, antigamente, também não havia tanta fila de carro, tanto congestionamento, tanta fila para pegar um ônibus, tanta fila para pagar conta em banco, tanta fila para pagar as compras nos caixas de supermercado por que nem supermercado havia, tanta fila para pegar o elevador do prédio, enfim, não havia tanta fila para tudo. As perguntas que eu me faço: Será que antigamente éramos mais educados porque as condições para sê-lo eram mais favoráveis? Será que educação, moral, ética, honestidade obedecem a  mesma ótica de que a ocasião é que faz o ladrão? Ou seja, o que faltava era  oportunidade para sermos mal educados? Será que hoje somos tão mal educados porque, finalmente, se tem todas as condições sociais para alimentar a imensa e variada  gama de defeitos inerentes ao ser humano, entre elas, a de ser mal educado?
       Ontem eu fiquei um tempão parado esperando que algum bendito carro desse licença para que eu e meu kazinho entrasse na av. Presidente Kennedy. Fiquei na espreita de uma oportunidade, penando, cinco carros dirigidos por senhoras nem deram bola para meu sinal de "dá licença" "posso passar" que fazia com o dedo polegar que me possibilitaria entrar na maldita avenida até que um cidadão deu passagem e lá fui eu. Gosto muito de ver mulher dirigindo, não tenho dúvidas que elas dirigem com mais responsabilidade que nós os homens, elas geralmente obedecem os sinais de trânsito com mais boa vontade. Mas quanto a educação no trânsito, quando se trata de dar e receber gentilezas, esses mimos que todos gostamos de receber sei não, tenho um amigo que diz que a maioria das mulheres adoram receber gentilezas no trânsito mas a recíproca  nunca é a mesma...penso que isso está muito relacionado a idéia de que um homem gentil atrai mais as mulheres, é verdade, mas as mulheres devem saber que nós também gostamos disso, inclusive no trânsito.   
     Outra coisa que eu "adoro" é  ficar plantado na fila de "atendimento prioritário" que existem por aí, dá vontade de rir pois ficar numa "fila" imensa para se atendido é priorizar o atendimento desde quando? Todos os caixas dos supermercados ou lojas deveriam dar prioridade a quem precisa do atendimento imediato, isso sim seria priorizar o atendimento, do jeito que é feito é me engana que eu gosto. Barbados caras de pau misturados entre velhos, senhoras grávidas ou com crianças no colo na fila de atendimento prioritário já é tão comum que nem vou comentar, a minha decepção é com as marmanjas que agem da mesma forma. Ainda ontem, no hipermercado Bistek, ví na fila de atendimento prioritário uma moça linda, com aquela saúde de corpo inteiro que, injustamente, deus lhe deu pois devia ser tão feia quanto sua educação, usando aquele sapato salto alto que deixa as mulheres gigantescas, atrás dela o marido babaca e um senhor com oitentinha no mínimo, de aspecto assim de final de linha, esperando, esperando. Na placa está dizendo que a prioridade é para senhoras com crianças de colo. A criança dela, da moça bonita, não estava no colo, dormia o sono dos anjos num carrinho confortável, caso a criança acordasse o puto do marido com pinta de atleta de academia poderia pegar o moleque no colo sem nenhum prejuízo à saúde de nenhum dos dois. A mal educada ainda por cima carregava um carrinho de rancho para um ano inteiro e o velhinho de oitenta quase final de linha esperando, esperando. Não dá para ficar puto da vida vendo cenas como essas? E tem ainda essas senhoras com "crianças" quase na puberdade desfilando no "prioritário", que raiva dá...
     O meu desejo (e a praga que eu rogo) é que, essas pessoas jovens que fazem questão de ser, que até se orgulham da sua má educação, tenham uma velhice bem sofrida, que sofram bastante no futuro caso cheguem lá. E já que os velhinhos de amanhã pode ser que sejam esses jovens mal educados de hoje essa lei de "atendimento prioritário, mesmo que de araque, deveria ter prazo de validade, deveria acabar em tempo ainda dos velhinhos de amanhã padecer na pele o que hoje, enquanto são jovens, fazem os velhinhos sofrer. E os velhinhos de hoje que foram mal educados de ontem, sinto muito, mas estão apenas pagando por seus pecados, que sofram bastante...
         Enquanto isso, enquanto a sociedade não se educa, enquanto na maioria das casas a cultura da boa educação e dos bons modos continuar não fazendo parte da cartilha familiar, o que fazer, temos que conviver com a má educação e as leis.    



AS GRANDES DESCOBERTAS E AS LEIS


          Parece que o povo está se descobrindo e na medida que isso vai acontecendo vão surgindo as leis. Descobriu-se que existem tantos ladrões, safados, corruptos, bandidos e até traficantes se candidatando a cargos políticos e, pasmem, conseguindo se eleger, que foi criada a lei da ficha limpa. Depois de muito tempo a sociedade deu-se conta que o homem possuia poderes quase divinos sobre a mulher e que permitia que praticasse ações covardes contra elas, maltratando, violentando, estuprando e matando, até que uma dessas vítimas foi a luta e obrigou a sociedade criar a lei Maria da Penha.
       Descobriu-se também que falta  educação e cuidado com relação aos idosos, mulheres grávidas e deficientes físicos era tanta que foi preciso criar uma lei que lhes desse atendimento prioritário. Uma das grandes descobertas do século  foi que, pais e mães, amparados pela justificativa de bem "educar" seus filhos, abusam do "direito" de aplicar palmadas, beliscões, puxões de orelhas e de cabelos, abusam do "direito" de aplicar chineladas e cintadas, fazendo  surgir a lei da palmada.
     Outra grande descoberta foi que era preciso restringir o até então sagrado direito do fumante de tragar seus fedorentos cigarros e puxar a fumaça igualmente fedorenta de charutos e cachimbos. Os não fumantes foram historicamente e simplesmente tão ignorados que foi criada finalmente a lei anti fumo.  Não foi preciso muita pesquisa para se descobrir que a mortandade no trânsito é causada por irresponsáveis bêbados que usam carros como se fossem armas mortíferas que fez surgir a nova lei do trânsito e a lei seca.
      Após séculos e bem depois do descobrimento do Brasil a relação entre brancos e negros começou a ser discutida e expôs a ferida social da  segregração da raça negra e afro descendentes. Como já entramos no século vinte e um, no terceiro milênio e grande parte da população ainda não entende que por baixo da pele é tudo ser humano foi criada a lei contra o racismo. E olha que falta muita coisa ainda a se descobrir...
    Voltando à lei da ficha limpa, válida já para essa eleição, não posso deixar de lembrar do velho e bom Rui Barbosa, o mestre, feliz, deve estar se mexendo no túmulo para, finalmente, descansar mais confortavelmente. Foi dele o texto famoso que diz: "De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto". E disse tudo...