terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A QUESTÃO DA FÉ

  
     
         Segundo pesquisas no mundo vivem mais de sete bilhões de pessoas e seis bilhões são adeptos das mais diversas religiões existentes no planeta. São Católicos, Protestantes, Anglicanos, Ortodoxos, Muçulmanos, Hinduístas, Budistas, Judeus, Espíritas, Confucionistas, Xintoís, Taoístas que acreditam num deus, alguma divindade ou força espiritual superior.
           A questão da fé geralmente passa pelo histórico familiar e social, somos influenciados a acreditar em deus e aprendemos a ter fé seguindo as tradições religiosas de nossos avós, nossos pais, nossos tios e por aí vai. Não podemos fugir desse enredo cultural que nos leva a repetir e consolidar a crença, a maneira de agir, de se comportar, de se alimentar, de se divertir de nossa gente, do nosso povo. É claro que nada é cem por cento nesse mundo e  muitas vezes esse aprendizado cultural não ocorre, por exemplo, numa família tradicionalmente católica um membro decide pelo budismo. Nesses casos as interações espirituais extras familiares mais convincentes levaram o sujeito a mudar sua opinião e crença. 
       Pensando nesses seis bilhões de adeptos pelo mundo inteiro me ponho a imaginar quantos são cristãos na prática, quantos se dizem cristãos mas nunca entraram numa igreja para rezar, ou num templo para orar, quantos afirmam sua fé para todo mundo ouvir mas quantos realmente acreditam na existência de um deus? Na verdade, as pesquisas se baseiam no depoimento verbal das pessoas e não pode ser diferente, seria impossível aos pesquisadores percorrer templos e igrejas do mundo inteiro e contar os fiéis que nelas realmente comparecem. O que eu quero dizer é que se as pessoas pudessem ou quizessem falar francamente sobre suas convicções na vida seria muito menor o número de adeptos dessas comunidades religiosas  do que afirmam as pesquisas. 
        Sou absolutamente favorável que as pessoas tenham sua fé, desde que, assim, sejam felizes. Acredito que não se deve corromper esse princípio sagrado das pessoas que é professar sua fé mas também creio na contrapartida, o direito que o sujeito tem de não acreditar na existência de um deus criador para tudo que existe. Eu, por exemplo, não acredito e não foi por falta de "boas influências" afinal nasci em família católica e estudei minha infância e parte da adolescência em colégio interno administrado pelos padres Palotinos, em Santa Maria. 
         Se tivesse que dar um conselho diria que muita gente deveria fazer um bom exame de consciência, conhecer melhor a sí mesmo, parar de se enganar, de mentir para quem está à sua volta, parar com essa coisa de achar que ter fé ou dizer que a tem a faz melhor e mais feliz, que se abdicar da fé será infeliz, nada disso. Eu sou feliz assim, não acreditando e verdadeiro comigo mesmo sem me importar muito com os outros. 
         Quando, pouco tempo atrás, por conta de uma interveição cirúrgica, fiquei numa UTI de hospital e no limiar entre a vida e a morte, nunca me passou pela cabeça chamar padre, pastor ou quem quer que seja porque acredito que nenhum deles poderia passar um mata borrão no meu currículo de vida e me encaminhar para campos mais verdejantes do andar de cima porque também não acredito nesse perdão divino de última hora. 
       Acho até que um dos paradoxos religiosos que me deixa mais pasmado é o da confissão. Simplesmente não me entra na cabeça que um sujeito  que tenha levado uma vida errante, foi desonesto, imoral, violento, depravado, falso, egoísta, racista, preconceituoso, foi mau pai, mau filho, mau marido, mau profissional, enfim, um bestalhão, um dia morre e, ao invés de ir direto para os quintos do inferno o que acontece? Obtem uma salvação de última hora pois quando já está quase batendo as bielas confessa os pecados e pede ao criador perdão dos seus pecados. Ora bolas, e as pessoas decentes, honestas, que foram para o andar de cima por merecimento como é que ficam? É um paradoxo para mim mas não é para quem tem fé, para ele a questão se resume em acreditar e não questionar porque deus sabe o que faz e porque faz as coisas serem assim. 
         Penso que, qual seja a religião, o que católicos, protestantes, anglicanos, ortodoxos, muçulmanos, hinduístas, budistas, judeus, espíritas, confucionistas, xintoís e taoístas deveriam ter em mente é que, em qualquer das hipóteses, seja da existência de um criador ou não, seja de existir vida após a morte ou não existir, trilhar uma vida decente sempre será o melhor caminho. E um aviso, é bom abrir bem os olhos, principalmente aqueles que ameaçam ateus com o fogo do inferno ou coisa pior, se não andarem bem nos trilhos da vida, não há religião ou crença que os salve.
           Um amigo, certa vez, perguntou se eu não temia a morte e a vida depois dela, respondi sinceramente não e sabe por quê? Porque em qualquer das hipóteses, existindo deus ou não, existindo vida após a morte ou não, tudo depende daqui, do que fazemos na vida terrena e é nisso que se baseia a minha fé.

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