terça-feira, 25 de setembro de 2012

QUANDO TEM DE SER... VOCÊ ACREDITA EM DESTINO?

       Naquele dia fiquei muito puto da vida e quando estou puto da vida eu viajo. Primeiro recebi a notícia que Fernando, o gerente do restaurante que eu trabalhava estava doente e faltaria ao trabalho. Isso significava que eu teria que chegar mais cedo no trabalho e fazer as tarefas dele além das minhas e foi o que fiz. Mas o que não esperava é que aparecesse o substituto de Fernando, seu irmão, que não entendia nada de restaurante mas estava alí para tentar substituir o irmão. O sujeito começou a pegar no meu pé e dos cozinheiros, copeiros e garçons da casa, gente a maioria com 15 anos ou mais tempo de estrada na culinária e atendimento ao público o que me deixou muito irritado, pensei, se continuar a palhaçada eu caio fora. E foi justamente o que ocorreu quando o sujeitinho começou a pegar no meu pé joguei o uniforme no armário e sai. Como o restaurante ficava no Méier e próximo da estação resolvi pegar o trem da Central do Brasil e viajar até Duque de Caxias. A viagem me refrescaria a cabeça e serviria para ver um lote de terra que estava à venda num anúncio de jornal. A minha primeira estranheza seria esta, porque depois de 15 anos  sem faltar um dia no trabalho, acontecesse o que acontecesse, resolvi faltar justo naquele dia?
        Pois bem, andei até a estação do Méier, subi a escadaria e me dirigi ao setor de passagens. Havia uma fila enorme e a minha paciência estava bem limitada devido, principalmente, ao incidente com o irmão do gerente ocorrido no restaurante. Portanto, não estava com estômago para aguentar o que ví, ou seja, uma garota furando a fila bem na minha frente mas foi o que aconteceu. Quando dei por mim ela  havia se postado bem na minha frente. Certamente não tinha a menor idéia do ódio quase mortal que eu tenho de furadores de fila. Nada, nada me deixa mais irritado que presenciar alguém dando uma de esperto e passando outros para trás. Assim, eu já me preparava para soltar o verbo quando a garota olhou para trás fixou bem nos meus olhos e disse: - olha, juro por deus, eu não costumo fazer isso mas não sei o que me deu... eu pensei, elazinha não sabe o que lhe deu? Pois eu já vou mostrar para essa mal educada o que ela não sabe o que lhe deu. Antes que esboçasse qualquer reação ela disse: mas se você quizer eu vou lá para trás da fila... fico lá, na boa. Vestia uma bluzinha branca decotada que deixava á mostra o início de uns peitos que dava para advinhar que eram lindos e eu era obsecado por seios lindos. Havia também aquele jeitinho inocente de dizer as coisas como se tudo que ela fazia era motivado pela mais pura inocência. Esqueci os desaforos que estava para dizer e ficamos conversando enquanto a fila andava. Segunda estranheza: sou inflexível e não abro mão de alguns princípios e furar a fila é um deles, porque justo aquela garota havia me feito abrir mão de um princípio sagrado?
      Conversa vai, conversa vem, a fila andou, pagamos nossas passagens, descemos a escadaria naquele papo já tão íntimo como se fôssemos amigos de longa data. O trem chegou e embarcamos rumo a Duque de Caxias. Ela ia visitar a irmã que, afinal, acabei conhecendo naquele dia mesmo pois a garota me convidou a acompanha-la até a casa da Celeste, um amor de pessoa. No caminho a garota falou que morava em Vaz lobo e que sua casa ficava na primeira rua à esquerda depois do colégio estadual. Antes de chegar na casa da irmã dela paramos numa pracinha para descansar e ali rolou o primeiro beijo. Na volta do passeio já estava francamente disposto a combinar um novo encontro que foi o que eu fiz. Tratamos de nos encontrar na estação do Méier, no domingo, às três da tarde. Infelizmente no domingo houve um desencontro pois ela me esperou no lado de dentro da estação e eu a esperei no lado de fora. Fui para casa decidido a esquecer a garota que havia dado o primeiro cano da minha carreira de conquistador.
Passaram seis meses, às vezes eu me pegava pensando na garota mas logo esquecia até que um dia recebi um telefonema da minha tia Custódia. Ela havia mudado de sua casa em Honório Gurgel para um apartamento em Vaz lobo, passou o endereço para mim e anotei, na promessa de qualquer dia de folga no restaurante ir visitá-la. Dito e feito na primeira oportunidade fui visitá-la. Desci do ônibus em Madureira e, para economizar o dinheiro da passagem resolvi andar a pé até o endereço. Era um percurso longo de Madureira até Vaz Lobo e quando passei pelo Colégio Estadual, de repente, lembrei da garota, ela dissera que morava na primeira rua à esquerda do estabelecimento de ensino. Na esquina da rua é claro que eu dei uma olhada, lá estava ela, na frente de sua casa conversando com as primas. Ali, naquele momento, meu coração pulou no peito e eu achei muito esquisito pois nunca havia sentido nada igual por nenhuma garota. Fui lá e quando ela me viu fez sinal que não chegasse perto da casa, as primas correram para dentro rindo e ela saiu na rua para conversar comigo. Segundo ela o padrasto era uma fera e não permitia namorar por achar que era muito nova.
        Terceira e última estranheza, se eu não tivesse ido a ´pé para economizar a grana da passagem, se fizesse o contrário, tivesse descido do ônibus em Madureira e entrado em outro rumo a Vaz Lobo não teria passado em frente á rua à esquerda do colégio, não teríamos nos encontrado. Mas nos encontramos, começamos a namorar, casamos e estamos juntos há 35 anos...não tinha de ser?