quinta-feira, 2 de agosto de 2012

EU SOU DE TEMPO QUE...







      Hoje fui com minha filha no supermercado Santos, em Palhoça, para sacar um dindin. No caixa eletrônico estavam duas senhoras por sinal muito bem vestidas e rechonchudas. Elas estavam realmente encontrando muita dificuldade para sacar dinheiro, a máquina, como se sabe, solicita senhas, letras e números, um inferno para as duas balzaquianas. De repente uma delas soltou um puta que pariu e a outra, logo em seguida, mandou o caixa eletronico simplesmente tomar bem naquele lugar. E não cochichavam não, as imprecações foram vociferadas em alto e bom som e para quem quisesse ouvir.   
    Não dá o que pensar esse tipo de atitude das pessoas? Eu sou do tempo que duas senhoras aparentemente distintas jamais tomariam esse tipo de atitude.
       E as crianças, deus do céu... eu sou do tempo que os pirralhos obedeciam e respeitavam seus avós e, por consequência respeitavam idosos. Mais um caso. Eu ainda morava em São José e, certo dia, eu e minha esposa nos deparamos com uma cena muito deprimente. Voltávamos de carro de uma churrascaria,  já passava da meia noite, quando observamos que uma senhora, da janela da sua casa, chamava o neto pedindo que entrasse para dentro devido a adiantado da hora. O menino que não poderia ter mais que 12 anos, no primeiro momento apenas olhou a senhora, não respondeu nada e continuou o papo com uns rapazes que estavam em sua companhia. A preocupada senhorinha, ainda encarapitada na janela, chamou-o novamente sendo que dessa vez ele respondeu; - vó, vá pá merda!!! Foi o que deu para ver e ouvir antes que nos distanciássemos do local. Francamente gente, eu sou do tempo que se acontecesse uma coisa dessas, os próprios rapazes que faziam companhia teriam dado uma surra no moleque ao invés de ficarem rindo.
       Evidentemente que todo comentário que faço e seja lá de que assunto que trate, sempre me abstenho de generalizar, até porque as bondades e maldades desse mundo sempre existiram e existirão. Então o que quero dizer é que pessoas mal educadas, crianças agressivas e desbocadas, jovens rebeldes sem causa, sem educação, não se constituem invenções dessa geração pois fazem parte do contexto social em que vivemos desde que o mundo é mundo, mas...
     Observando as transformações que ocorreram e que estão ocorrendo no planeta, como de forma vertiginosa os recursos tecnológicos surgiram, como a transmissão de conhecimentos e culturas se espalharam e se misturaram entre os povos, não seria de esperar que as pessoas se tornassem melhores e mais educadas em suas interações pelo mundo?        
     Quando alguém começa a dizer - ah, pois é, no meu tempo... dá vontade de responder que no seu tempo porra nenhuma mas depois fico imaginando que de repente naqueles "bons tempos" muita coisa de ruim que se faz hoje naquele tempo não se fazia mesmo. Por exemplo, desde quando que naquele tempo um aluno daria um chute no trazeiro de uma professora por mais louca que ela fosse? Nunca mesmo. 
        O que podemos fazer? Quem sabe embarcar as pessoas numa máquina do tempo, numa arca de Noé dos tempos modernos e retornar a um passado mais educado? Mas...e o computador nosso de cada dia, a internet, o orkut, o facebook, as câmeras digitais, o shopping... Ninguém vai querer voltar à máquina de escrever se bem que eu sou do tempo da datilografia, do tempo que o sistema não caia deixando bancos, empresas e pessoas no maior apuro. 
         Lembro que minha vó Ondina, à beira do fogão de lenha, enquanto assava tainhotas e corvinas na grelha sobre brasas incandescentes resmungava que antigamente as coisas eram melhores, havia o escravo fazendo o trabalho pesado da roça e as negras fazendo os trabalhos domésticos, agora...
         A conclusão que se chega é que, em qualquer época que se viva, a anterior, a que ficou para trás sempre será melhor. E fico imaginando ainda que é normal que as pessoas mais antigas, em algum momento, insatisfeitas com o rumo que o mundo está seguindo, tenham vontade de descer desse planeta.