sexta-feira, 20 de abril de 2012

A PERSPECTIVA DE TER MATADO ALGUÉM




           
 
              Você já passou pela esperiência de ter atropelado alguém? Espero sinceramente que não. Eu já, 3ª feira, dia 17 de abril 2012, às 14h30, rodovia BR-101 sentido Palhoça /São José.
          Era meu primeiro dia de férias mas eu precisava fazer duas coisas, primeira, procurar uma Clínica ou Laboratório para agendar uns exames solicitados pela dra. Cintia, minha médica cardiologista, segunda, precisava terminar um serviço na SDR que não gosto de deixar nada mal terminado. E o trânsito estava uma merda, aliás a merda de sempre.
             Uma obra numa das pistas da BR-101 havia inaugurado o caos e o cenário era o seguinte: carros, ônibus e caminhões a meia pista andando em marcha lenta, a passo de tartaruga e motos passando voando por entre a turba. Olhei para a via marginal e observei que o trânsito fluia por lá, o dia passa célere, o tempo corre ligeiro e eu tinha muitas coisas para fazer e então tomei a decisão fatídica, sair da BR-101 e passar para via marginal. Mas as motos não permitiam a manobra, como já falei milhares delas passavam numa velocidade louca por entre carros e caminhões que trafegavam naquele passo lento. Fiquei aguardando uma oportunidade de guiar meu carro para outra pista, a da direita para e finalmente pegar a marginal. Eu juro que olhei pelo espelho retrovisor da porta direita do carro e não ví moto alguma, na sequência engatei a marcha e pus o carro na pista da direita. Então ouvi um estrondo tremendo, uma moto havia batido violentamente na porta direita do meu carro, um grito de mulher, agoniado e apavorante deu-me a percepção de que estava envolvido no meu primeiro acidente de trânsito. A moto caiu para o lado do asfalto carregando o motoqueiro, a mulher, carona, foi expelida do banco, saltou para cima e caiu de cabeça na rodovia. Fique aturdido mas consegui serenidade para levar o carro até o meio fio e estacionar.
        Até aquele instante o momento mais difícil da minha vida eu considerava quando quase morri numa cama de UTI depois de ser submetido a um procedimento cirúrgico para colocação de Stend em duas artérias coronárias. Mas naquele exato momento eu estava atônito sentado no meu carro e havia um corpo de mulher estirado no asfalto. Nunca vou poder descrever esse momento na riqueza de detalhes que lhe é devido para que as pessoas que nunca passaram por isso entendam a dimensão exata do sofrimento e da angústia a que fui submetido. Desvencilhei-me do cinto de segurança e corri para socorrer a vítima. O marido, mancando numa das pernas e segurando um dos braços com a mão, foi de encontro a mulher e começou a retirada do capacete. As pessoas em volta diziam para ela não se mecher até chegar socorro, ajudei a retirar o capacete. Falei para ela procurar mexer o pé, ela tentou e mexeu, pedi que procurasse mexer com os dedos das mãos, a mulher tentou e conseguiu mexer, estava tudo bem com os membros superiores e inferiores, nenhuma fratura. Ela havia batido com a cabeça violentamente no asfalto mas o capacete salvou-lhe a vida. Logo depois chegou o carro dos bombeiros, também do Samu e após os atendimentos de praxe levaram a mulher para o Hospital Regional.
        A moto não sofreu nenhuma avaria, os prejuízos ficaram por conta da porta do meu carro totalmente amassada e do espelho retrovisor quebrado. Numa situação dessas prejuízos materiais perdem a relevância, pelo meonos para mim, uma vez que o que mais importava naquele momento era que a vida daquela mulher estirada no asfalto havia sido poupada. Dei o número do meu telefone, apertei a mão do sujeito e fui embora, até relativamente feliz e aliviado.