segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O SENTIMENTO DE POSSE, AS PERDAS E OS DANOS...





        Outro dia eu me peguei pensando que o nascimento de um filho é qualquer coisa de inexplicável. Devo afirmar que tenho conhecimento de causa (cinco filhos) para saber que cada nascimento é um momento único e um visceral sentimento de alívio porque acabou a angustiante espera, nove meses, um pouco prá mais, um pouco prá menos. Enfim, a reconfortante realidade - o bebê nasceu. Para concluir, se tivesse que significar o nascimento de um filho diria que é a sensação de ficar absurdamente feliz, em êxtase total e absoluto. Claro, depois vem a primeira mijada, as noites intermináveis e mal dormidas ou não dormidas, as primeiras impertinências, o choro manhoso do bebê madrugadas adentro, as fraldas, o banho, as corridas desesperadas para o pediatra, os arrotos, as golfadas...
         A minha experiência como pai me levou também a pensar e ler sobre a criação e educação dos filhos e descobrir certas diferenciações entre homem e mulher nas etapas de desenvolvimento dos filhos. Entendo que todos devem estar de acordo que tanto a mulher quanto o homem devem compartilhar de todas as fases de desenvolvimento do filho, desde o nascimento até a infância e adolescência. No entanto, existe um problema, tão logo recebe o recém nascido nos braços, geralmente a mulher considera que o filho é, prioritariamente, DELA. O argumento do bebê ter sido gerado pelos dois não conta muito, conta que foi na barriga dela que o filho se desenvolveu, foi ela quem o alimentou dentro de si durante nove meses até nascer, portanto, o filho é DELA, tanto é verdade que mesmo estando o marido por perto seguidamente se ouve a mulher falar "meu" e não "nosso" filho quando se refere a criança que os dois geraram. Estou dizendo isso porque é nesse momento que se estabelece uma necessidade básica para a vida do casal e a educação do filho que é a de expurgar esse primeiro sentimento de posse da mulher e fazê-la entender que o filho é dos dois com a mesma carga de responsabilidade. Muitas vezes o sentimento de posse da mulher que não foi discutido nem dimensionado pelo casal é tão forte que retira do homem o direito sagrado de participar da saudável maratona da criação de um filho. E a mulher ainda culpa mais tarde o marido por não ser participativo:
           - nunca trocou uma fralda!
      Pode parecer injusto afirmar que a mulher deva abdicar do seu sagrado direito de achar que o filho é só DELA mas é que outros desafios, outros atores e personagens, vão se materializar e interpretar papéis de suma importância na história de vida da criança e, todos, sem exceção, vão ter influência e participação nessa história, como por exemplo, os professores na escola. Quando recebia na minha sala de aula uma mãe excessivamente preocupada com o filho ficava pensando cá com meus botões se ela já havia expurgado de dentro de sí o seu sentimento de posse. Sabem aquela mãe que corre apavorada no colégio querendo matar professor, diretor, merendeira e quem mais tenha ousado magoar o SEU filhinho? Aquela mãe que não tem o menor pudor nem constrangimento de defender o filho mesmo quando está errado? Enfim, o sentimento de posse determina as relações inclusive das mães e as futuras esposas de seu filhos pois quando um dia seu meninão chega da escola com os olhos revirados nas órbitas, andando pelos aposentos da casa feito um zumbi e rindo à toa qualquer mãe já sabe que seu filho está apaixonado. Para essas mães não completamente exorcizadas do sentimento de posse é o pior dos dias de sua vida, a grande rival finalmente chegou para lhe arrebatar a cria e, fatalmente casar com ele.      Não vou perder meu tempo descrevendo as fofocas, as intrigas, os embates que ocorrem entre mulheres sejam elas noras ou sogras envoltas em seus sentimentos de posse mal resolvidos porque o assunto além de esgotado já virou piada. Só preciso lembrar de duas coisas:
      a) que um dia, inexoravelmente, os filhos casam, talvez para morar bem distante, terão seus filhos também e, mesmo que não casem terão que seguir seus caminhos, cada um de acordo com as circunstâncias da vida, seja indo para longe em busca de um futuro melhor, seja para um curso no exterior para alavancar sua carreira profissional e os pais precisam desatar os nós que ainda os prendem aos filhos.
       b) que se hoje você souber negociar com sabedoria e generosidade amanhã poderá colher bons frutos, afinal não é bom esquecer que o tempo é o melhor juiz e que a nora de hoje será a sogra de amanhã com suas perdas e danos. É a vida.


 
      









                       





Nenhum comentário:

Postar um comentário