Outro
dia eu me peguei pensando que o nascimento de um filho é qualquer
coisa de inexplicável. Devo afirmar que tenho conhecimento de causa
(cinco filhos) para saber que cada nascimento é um momento único e
um visceral sentimento de alívio porque acabou a angustiante espera,
nove meses, um pouco prá mais, um pouco prá menos. Enfim, a
reconfortante realidade - o bebê nasceu. Para concluir, se tivesse
que significar o nascimento de um filho diria que é a sensação de
ficar absurdamente feliz, em êxtase total e absoluto. Claro, depois
vem a primeira mijada, as noites intermináveis e mal dormidas ou não
dormidas, as primeiras impertinências, o choro manhoso do bebê
madrugadas adentro, as fraldas, o banho, as corridas desesperadas
para o pediatra, os arrotos, as golfadas...
A
minha experiência como pai me levou também a pensar e ler sobre a
criação e educação dos filhos e descobrir certas diferenciações
entre homem e mulher nas etapas de desenvolvimento dos filhos.
Entendo que todos devem estar de acordo que tanto a mulher quanto o
homem devem compartilhar de todas as fases de desenvolvimento do
filho, desde o nascimento até a infância e adolescência. No
entanto, existe um problema, tão logo recebe o recém nascido nos
braços, geralmente a mulher considera que o filho é,
prioritariamente, DELA. O argumento do bebê ter sido gerado pelos
dois não conta muito, conta que foi na barriga dela que o filho se
desenvolveu, foi ela quem o alimentou dentro de si durante nove meses
até nascer, portanto, o filho é DELA, tanto é verdade que mesmo
estando o marido por perto seguidamente se ouve a mulher falar "meu"
e não "nosso" filho quando se refere a criança que os
dois geraram. Estou dizendo isso porque é nesse momento que se
estabelece uma necessidade básica para a vida do casal e a educação
do filho que é a de expurgar esse primeiro sentimento de posse da
mulher e fazê-la entender que o filho é dos dois com a mesma carga
de responsabilidade. Muitas vezes o sentimento de posse da mulher que
não foi discutido nem dimensionado pelo casal é tão forte que
retira do homem o direito sagrado de participar da saudável maratona
da criação de um filho. E a mulher ainda culpa mais tarde o marido
por não ser participativo:
-
nunca trocou uma fralda!
Pode
parecer injusto afirmar que a mulher deva abdicar do seu sagrado
direito de achar que o filho é só DELA mas é que outros desafios,
outros atores e personagens, vão se materializar e interpretar
papéis de suma importância na história de vida da criança e,
todos, sem exceção, vão ter influência e participação nessa
história, como por exemplo, os professores na escola. Quando recebia
na minha sala de aula uma mãe excessivamente preocupada com o filho
ficava pensando cá com meus botões se ela já havia expurgado de
dentro de sí o seu sentimento de posse. Sabem aquela mãe que corre
apavorada no colégio querendo matar professor, diretor, merendeira e
quem mais tenha ousado magoar o SEU filhinho? Aquela mãe que não
tem o menor pudor nem constrangimento de defender o filho mesmo
quando está errado? Enfim, o sentimento de posse determina as
relações inclusive das mães e as futuras esposas de seu filhos
pois quando um dia seu meninão chega da escola com os olhos
revirados nas órbitas, andando pelos aposentos da casa feito um
zumbi e rindo à toa qualquer mãe já sabe que seu filho está
apaixonado. Para essas mães não completamente exorcizadas do
sentimento de posse é o pior dos dias de sua vida, a grande rival
finalmente chegou para lhe arrebatar a cria e, fatalmente casar
com ele. Não vou perder meu tempo descrevendo as fofocas, as
intrigas, os embates que ocorrem entre mulheres sejam elas noras ou
sogras envoltas em seus sentimentos de posse mal resolvidos porque o
assunto além de esgotado já virou piada. Só preciso lembrar de
duas coisas:
a)
que um dia, inexoravelmente, os filhos casam, talvez para morar bem
distante, terão seus filhos também e, mesmo que não casem terão
que seguir seus caminhos, cada um de acordo com as circunstâncias da
vida, seja indo para longe em busca de um futuro melhor, seja para um
curso no exterior para alavancar sua carreira profissional e os pais
precisam desatar os nós que ainda os prendem aos filhos.
b)
que se hoje você souber negociar com sabedoria e generosidade amanhã
poderá colher bons frutos, afinal não é bom esquecer que o tempo é
o melhor juiz e que a nora de hoje será a sogra de amanhã com suas
perdas e danos. É a vida.
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