sábado, 6 de outubro de 2012

PRECONCEITO... EU?!?





 

      Hoje em dia ninguém admite que tem preconceito de cor e nem é louco de admitir. Primeiro porque, mesmo que a passos lentos, a humanidade avançou  no sentido de combater essa estupidez, segundo porque racismo dá cadeia e em terceiro lugar porque essas demandas sociais determinaram que o preconceito sejá visto como um mal a ser extirpado do nosso meio, portanto não é mais aceito socialmente.  
     Antigamente existiam bailes onde negro era proibido de entrar sob pena de levar uma surra de seguranças e não precisava o sujeito ser um negro negro, um cabelo ondulado ou crespo já era mais que suficiente para ser mal visto e considerado "negro". O preconceito não só era aceito como alardeado. Hoje em dia tudo está mudando, as pessoas já não dizem abertamente que não gostam de negro, que odeiam negro, nem que maltratam velhinhos, que discriminam homossexuais ou que judiam de crianças. Não dizem mas fazem e muito...   
      Minha vó era devota de Nossa Senhora Aparecida e uma católica intensa na sua fé em deus, nascera e vivera grande parte de sua vida numa fazenda onde trabalhavam muitos escravos negros. Um dia casou, teve seus filhos, netos, bisnetos, ficou  velhinha. O tempo foi mudando as coisas e ela não vendo. Minha vó simplesmente se escandalizava com a audácia de certos negros e dizia: "eles nos desafiam ...olham a gente nos olhos, antigamente aí do negro que levantasse os olhos para um branco... agora eles querem até frequentar nossos bailes...Minha voinha, coitada, haveria de sofrer muito se vivesse mais tempo e alcansasse essas  transformações da sociedade para as quais não estava preparada para conceber nem aceitar.  
      Como bem sabemos, vivemos numa sociedade do culto ao belo, do horror ao que se estabelece como feio, ter preconceito ou qualquer atitude discriminatória é indigno e feio, logo ninguém quer ser feio, logo, ninguém diz que tem preconceito.
   Devemos ser otimistas e reconhecer os avanços da humanidade nesse último século mas infelizmente também sabemos que nada muda da noite para o dia e que o preconceito ainda está latente em muitas pessoas. Einstein dizia ser mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito e o que observamos é isso mesmo, depois de séculos de luta as interações que permeiam a teia social mostram bem visível esse sutil e esbranquiçado desdém contra o negro, esse sentimento que resiste a séculos e ainda está muito distante de acabar. 
     Vivemos num mundo cujo sistema de se viver muita gente defende como o ideal e que se afirma mais justo, contudo a realidade mostra uma sociedade onde muitos seres humanos são excluídos, são tratados com ódio, sofrem violência moral e física pelo simples motivo de apresentar comportamento diferente do convencional. Nesse mundo ideal temos e conviver com sutilezas e manhas que servem para encobrir também o nojo disfarçado de quem se afirma hétero e que está presente na relação com os homossexuais seja no trabalho como em outras atividades da vida humana. 
   Histórias sobre atos de preconceito e discriminação quem não os pode contar, quem não conviveu? Eu já vivi algumas. Por exemplo, quando lecionava na minha terra conheci uma pessoa, ela era professora, muito antenada, moderna e  sempre de bem com a vida. Depois de algum tempo trabalhando juntos ficamos amigos. Seus argumentos principalmente contra o racismo eram fortes, não tolerava qualquer tipo de discriminação. Muito católica dizia: somos todos filhos de deus, portanto, brancos e negros são irmãos e se para Ele não existe cor de pele diferente devemos também considerar que não é a cor da pele que indica se uma criatura de deus tem mais valor ou menos valor.
    Até que certo dia (e sempre tem um certo dia na vida da gente) sua filhinha loura de quinze anos e olhos muito azuis chegou em casa de mãos dadas com um rapaz anunciando o namoro. Era um garoto negro, legítimo e digno representante da raça africana, alto, forte e dentes muito brancos que estendeu a mão e sorriu  apresentando-se. Minha amiga quase teve uma síncope. Noutro dia disse taxativa: -   Ah... não, um netinho crioulinho, não, jamais, ela vai desmanchar esse namoro já.
     E o que dizer e o que fazer quando a filha declara que se sente atraída sexualmente por outra mulher ou quando o filho finalmente sai do armário e assume sua homossexualidade? Sei que muita gente vai morrer sem passar por essa experiência mas que é uma forma real de testar convicções, conceitos e preconceitos lá isso é.
    E você já passou pela experiência de descobrir que seu melhor amigo(a) é gay ou lésbica? É isso mesmo, aquele seu camaradinha que brincou junto, que lhe  acompahou nas peraltices da infância e adolescência de repente...e agora, você corre ou continua amigo(a)?
    O medo de desagradar o meio social muitas vezes pode levar a pessoa achar que é melhor manter o cinismo e não admitir o preconceito. O planeta terra e o ser humano que nele habita se desenvolveram ao longo de um processo de milhões de anos e parece sina que todas as aspirações do homem tenha um tempo para se definir e para se concretizar.
   Por isso tenho fé que um dia o cinismo e a hipocrisia serão deixados de lado. Imagino-me num mundo real onde as pessoas lembrarão do racismo assim como todo tipo de discriminação seja ela étnica ou contra homossexuais como coisa do passado.

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