sábado, 6 de outubro de 2012

PRECONCEITO... EU?!?





 

      Hoje em dia ninguém admite que tem preconceito de cor e nem é louco de admitir. Primeiro porque, mesmo que a passos lentos, a humanidade avançou  no sentido de combater essa estupidez, segundo porque racismo dá cadeia e em terceiro lugar porque essas demandas sociais determinaram que o preconceito sejá visto como um mal a ser extirpado do nosso meio, portanto não é mais aceito socialmente.  
     Antigamente existiam bailes onde negro era proibido de entrar sob pena de levar uma surra de seguranças e não precisava o sujeito ser um negro negro, um cabelo ondulado ou crespo já era mais que suficiente para ser mal visto e considerado "negro". O preconceito não só era aceito como alardeado. Hoje em dia tudo está mudando, as pessoas já não dizem abertamente que não gostam de negro, que odeiam negro, nem que maltratam velhinhos, que discriminam homossexuais ou que judiam de crianças. Não dizem mas fazem e muito...   
      Minha vó era devota de Nossa Senhora Aparecida e uma católica intensa na sua fé em deus, nascera e vivera grande parte de sua vida numa fazenda onde trabalhavam muitos escravos negros. Um dia casou, teve seus filhos, netos, bisnetos, ficou  velhinha. O tempo foi mudando as coisas e ela não vendo. Minha vó simplesmente se escandalizava com a audácia de certos negros e dizia: "eles nos desafiam ...olham a gente nos olhos, antigamente aí do negro que levantasse os olhos para um branco... agora eles querem até frequentar nossos bailes...Minha voinha, coitada, haveria de sofrer muito se vivesse mais tempo e alcansasse essas  transformações da sociedade para as quais não estava preparada para conceber nem aceitar.  
      Como bem sabemos, vivemos numa sociedade do culto ao belo, do horror ao que se estabelece como feio, ter preconceito ou qualquer atitude discriminatória é indigno e feio, logo ninguém quer ser feio, logo, ninguém diz que tem preconceito.
   Devemos ser otimistas e reconhecer os avanços da humanidade nesse último século mas infelizmente também sabemos que nada muda da noite para o dia e que o preconceito ainda está latente em muitas pessoas. Einstein dizia ser mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito e o que observamos é isso mesmo, depois de séculos de luta as interações que permeiam a teia social mostram bem visível esse sutil e esbranquiçado desdém contra o negro, esse sentimento que resiste a séculos e ainda está muito distante de acabar. 
     Vivemos num mundo cujo sistema de se viver muita gente defende como o ideal e que se afirma mais justo, contudo a realidade mostra uma sociedade onde muitos seres humanos são excluídos, são tratados com ódio, sofrem violência moral e física pelo simples motivo de apresentar comportamento diferente do convencional. Nesse mundo ideal temos e conviver com sutilezas e manhas que servem para encobrir também o nojo disfarçado de quem se afirma hétero e que está presente na relação com os homossexuais seja no trabalho como em outras atividades da vida humana. 
   Histórias sobre atos de preconceito e discriminação quem não os pode contar, quem não conviveu? Eu já vivi algumas. Por exemplo, quando lecionava na minha terra conheci uma pessoa, ela era professora, muito antenada, moderna e  sempre de bem com a vida. Depois de algum tempo trabalhando juntos ficamos amigos. Seus argumentos principalmente contra o racismo eram fortes, não tolerava qualquer tipo de discriminação. Muito católica dizia: somos todos filhos de deus, portanto, brancos e negros são irmãos e se para Ele não existe cor de pele diferente devemos também considerar que não é a cor da pele que indica se uma criatura de deus tem mais valor ou menos valor.
    Até que certo dia (e sempre tem um certo dia na vida da gente) sua filhinha loura de quinze anos e olhos muito azuis chegou em casa de mãos dadas com um rapaz anunciando o namoro. Era um garoto negro, legítimo e digno representante da raça africana, alto, forte e dentes muito brancos que estendeu a mão e sorriu  apresentando-se. Minha amiga quase teve uma síncope. Noutro dia disse taxativa: -   Ah... não, um netinho crioulinho, não, jamais, ela vai desmanchar esse namoro já.
     E o que dizer e o que fazer quando a filha declara que se sente atraída sexualmente por outra mulher ou quando o filho finalmente sai do armário e assume sua homossexualidade? Sei que muita gente vai morrer sem passar por essa experiência mas que é uma forma real de testar convicções, conceitos e preconceitos lá isso é.
    E você já passou pela experiência de descobrir que seu melhor amigo(a) é gay ou lésbica? É isso mesmo, aquele seu camaradinha que brincou junto, que lhe  acompahou nas peraltices da infância e adolescência de repente...e agora, você corre ou continua amigo(a)?
    O medo de desagradar o meio social muitas vezes pode levar a pessoa achar que é melhor manter o cinismo e não admitir o preconceito. O planeta terra e o ser humano que nele habita se desenvolveram ao longo de um processo de milhões de anos e parece sina que todas as aspirações do homem tenha um tempo para se definir e para se concretizar.
   Por isso tenho fé que um dia o cinismo e a hipocrisia serão deixados de lado. Imagino-me num mundo real onde as pessoas lembrarão do racismo assim como todo tipo de discriminação seja ela étnica ou contra homossexuais como coisa do passado.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O SENTIMENTO DE POSSE, AS PERDAS E OS DANOS...





        Outro dia eu me peguei pensando que o nascimento de um filho é qualquer coisa de inexplicável. Devo afirmar que tenho conhecimento de causa (cinco filhos) para saber que cada nascimento é um momento único e um visceral sentimento de alívio porque acabou a angustiante espera, nove meses, um pouco prá mais, um pouco prá menos. Enfim, a reconfortante realidade - o bebê nasceu. Para concluir, se tivesse que significar o nascimento de um filho diria que é a sensação de ficar absurdamente feliz, em êxtase total e absoluto. Claro, depois vem a primeira mijada, as noites intermináveis e mal dormidas ou não dormidas, as primeiras impertinências, o choro manhoso do bebê madrugadas adentro, as fraldas, o banho, as corridas desesperadas para o pediatra, os arrotos, as golfadas...
         A minha experiência como pai me levou também a pensar e ler sobre a criação e educação dos filhos e descobrir certas diferenciações entre homem e mulher nas etapas de desenvolvimento dos filhos. Entendo que todos devem estar de acordo que tanto a mulher quanto o homem devem compartilhar de todas as fases de desenvolvimento do filho, desde o nascimento até a infância e adolescência. No entanto, existe um problema, tão logo recebe o recém nascido nos braços, geralmente a mulher considera que o filho é, prioritariamente, DELA. O argumento do bebê ter sido gerado pelos dois não conta muito, conta que foi na barriga dela que o filho se desenvolveu, foi ela quem o alimentou dentro de si durante nove meses até nascer, portanto, o filho é DELA, tanto é verdade que mesmo estando o marido por perto seguidamente se ouve a mulher falar "meu" e não "nosso" filho quando se refere a criança que os dois geraram. Estou dizendo isso porque é nesse momento que se estabelece uma necessidade básica para a vida do casal e a educação do filho que é a de expurgar esse primeiro sentimento de posse da mulher e fazê-la entender que o filho é dos dois com a mesma carga de responsabilidade. Muitas vezes o sentimento de posse da mulher que não foi discutido nem dimensionado pelo casal é tão forte que retira do homem o direito sagrado de participar da saudável maratona da criação de um filho. E a mulher ainda culpa mais tarde o marido por não ser participativo:
           - nunca trocou uma fralda!
      Pode parecer injusto afirmar que a mulher deva abdicar do seu sagrado direito de achar que o filho é só DELA mas é que outros desafios, outros atores e personagens, vão se materializar e interpretar papéis de suma importância na história de vida da criança e, todos, sem exceção, vão ter influência e participação nessa história, como por exemplo, os professores na escola. Quando recebia na minha sala de aula uma mãe excessivamente preocupada com o filho ficava pensando cá com meus botões se ela já havia expurgado de dentro de sí o seu sentimento de posse. Sabem aquela mãe que corre apavorada no colégio querendo matar professor, diretor, merendeira e quem mais tenha ousado magoar o SEU filhinho? Aquela mãe que não tem o menor pudor nem constrangimento de defender o filho mesmo quando está errado? Enfim, o sentimento de posse determina as relações inclusive das mães e as futuras esposas de seu filhos pois quando um dia seu meninão chega da escola com os olhos revirados nas órbitas, andando pelos aposentos da casa feito um zumbi e rindo à toa qualquer mãe já sabe que seu filho está apaixonado. Para essas mães não completamente exorcizadas do sentimento de posse é o pior dos dias de sua vida, a grande rival finalmente chegou para lhe arrebatar a cria e, fatalmente casar com ele.      Não vou perder meu tempo descrevendo as fofocas, as intrigas, os embates que ocorrem entre mulheres sejam elas noras ou sogras envoltas em seus sentimentos de posse mal resolvidos porque o assunto além de esgotado já virou piada. Só preciso lembrar de duas coisas:
      a) que um dia, inexoravelmente, os filhos casam, talvez para morar bem distante, terão seus filhos também e, mesmo que não casem terão que seguir seus caminhos, cada um de acordo com as circunstâncias da vida, seja indo para longe em busca de um futuro melhor, seja para um curso no exterior para alavancar sua carreira profissional e os pais precisam desatar os nós que ainda os prendem aos filhos.
       b) que se hoje você souber negociar com sabedoria e generosidade amanhã poderá colher bons frutos, afinal não é bom esquecer que o tempo é o melhor juiz e que a nora de hoje será a sogra de amanhã com suas perdas e danos. É a vida.


 
      









                       





terça-feira, 25 de setembro de 2012

QUANDO TEM DE SER... VOCÊ ACREDITA EM DESTINO?

       Naquele dia fiquei muito puto da vida e quando estou puto da vida eu viajo. Primeiro recebi a notícia que Fernando, o gerente do restaurante que eu trabalhava estava doente e faltaria ao trabalho. Isso significava que eu teria que chegar mais cedo no trabalho e fazer as tarefas dele além das minhas e foi o que fiz. Mas o que não esperava é que aparecesse o substituto de Fernando, seu irmão, que não entendia nada de restaurante mas estava alí para tentar substituir o irmão. O sujeito começou a pegar no meu pé e dos cozinheiros, copeiros e garçons da casa, gente a maioria com 15 anos ou mais tempo de estrada na culinária e atendimento ao público o que me deixou muito irritado, pensei, se continuar a palhaçada eu caio fora. E foi justamente o que ocorreu quando o sujeitinho começou a pegar no meu pé joguei o uniforme no armário e sai. Como o restaurante ficava no Méier e próximo da estação resolvi pegar o trem da Central do Brasil e viajar até Duque de Caxias. A viagem me refrescaria a cabeça e serviria para ver um lote de terra que estava à venda num anúncio de jornal. A minha primeira estranheza seria esta, porque depois de 15 anos  sem faltar um dia no trabalho, acontecesse o que acontecesse, resolvi faltar justo naquele dia?
        Pois bem, andei até a estação do Méier, subi a escadaria e me dirigi ao setor de passagens. Havia uma fila enorme e a minha paciência estava bem limitada devido, principalmente, ao incidente com o irmão do gerente ocorrido no restaurante. Portanto, não estava com estômago para aguentar o que ví, ou seja, uma garota furando a fila bem na minha frente mas foi o que aconteceu. Quando dei por mim ela  havia se postado bem na minha frente. Certamente não tinha a menor idéia do ódio quase mortal que eu tenho de furadores de fila. Nada, nada me deixa mais irritado que presenciar alguém dando uma de esperto e passando outros para trás. Assim, eu já me preparava para soltar o verbo quando a garota olhou para trás fixou bem nos meus olhos e disse: - olha, juro por deus, eu não costumo fazer isso mas não sei o que me deu... eu pensei, elazinha não sabe o que lhe deu? Pois eu já vou mostrar para essa mal educada o que ela não sabe o que lhe deu. Antes que esboçasse qualquer reação ela disse: mas se você quizer eu vou lá para trás da fila... fico lá, na boa. Vestia uma bluzinha branca decotada que deixava á mostra o início de uns peitos que dava para advinhar que eram lindos e eu era obsecado por seios lindos. Havia também aquele jeitinho inocente de dizer as coisas como se tudo que ela fazia era motivado pela mais pura inocência. Esqueci os desaforos que estava para dizer e ficamos conversando enquanto a fila andava. Segunda estranheza: sou inflexível e não abro mão de alguns princípios e furar a fila é um deles, porque justo aquela garota havia me feito abrir mão de um princípio sagrado?
      Conversa vai, conversa vem, a fila andou, pagamos nossas passagens, descemos a escadaria naquele papo já tão íntimo como se fôssemos amigos de longa data. O trem chegou e embarcamos rumo a Duque de Caxias. Ela ia visitar a irmã que, afinal, acabei conhecendo naquele dia mesmo pois a garota me convidou a acompanha-la até a casa da Celeste, um amor de pessoa. No caminho a garota falou que morava em Vaz lobo e que sua casa ficava na primeira rua à esquerda depois do colégio estadual. Antes de chegar na casa da irmã dela paramos numa pracinha para descansar e ali rolou o primeiro beijo. Na volta do passeio já estava francamente disposto a combinar um novo encontro que foi o que eu fiz. Tratamos de nos encontrar na estação do Méier, no domingo, às três da tarde. Infelizmente no domingo houve um desencontro pois ela me esperou no lado de dentro da estação e eu a esperei no lado de fora. Fui para casa decidido a esquecer a garota que havia dado o primeiro cano da minha carreira de conquistador.
Passaram seis meses, às vezes eu me pegava pensando na garota mas logo esquecia até que um dia recebi um telefonema da minha tia Custódia. Ela havia mudado de sua casa em Honório Gurgel para um apartamento em Vaz lobo, passou o endereço para mim e anotei, na promessa de qualquer dia de folga no restaurante ir visitá-la. Dito e feito na primeira oportunidade fui visitá-la. Desci do ônibus em Madureira e, para economizar o dinheiro da passagem resolvi andar a pé até o endereço. Era um percurso longo de Madureira até Vaz Lobo e quando passei pelo Colégio Estadual, de repente, lembrei da garota, ela dissera que morava na primeira rua à esquerda do estabelecimento de ensino. Na esquina da rua é claro que eu dei uma olhada, lá estava ela, na frente de sua casa conversando com as primas. Ali, naquele momento, meu coração pulou no peito e eu achei muito esquisito pois nunca havia sentido nada igual por nenhuma garota. Fui lá e quando ela me viu fez sinal que não chegasse perto da casa, as primas correram para dentro rindo e ela saiu na rua para conversar comigo. Segundo ela o padrasto era uma fera e não permitia namorar por achar que era muito nova.
        Terceira e última estranheza, se eu não tivesse ido a ´pé para economizar a grana da passagem, se fizesse o contrário, tivesse descido do ônibus em Madureira e entrado em outro rumo a Vaz Lobo não teria passado em frente á rua à esquerda do colégio, não teríamos nos encontrado. Mas nos encontramos, começamos a namorar, casamos e estamos juntos há 35 anos...não tinha de ser?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

EU SOU DE TEMPO QUE...







      Hoje fui com minha filha no supermercado Santos, em Palhoça, para sacar um dindin. No caixa eletrônico estavam duas senhoras por sinal muito bem vestidas e rechonchudas. Elas estavam realmente encontrando muita dificuldade para sacar dinheiro, a máquina, como se sabe, solicita senhas, letras e números, um inferno para as duas balzaquianas. De repente uma delas soltou um puta que pariu e a outra, logo em seguida, mandou o caixa eletronico simplesmente tomar bem naquele lugar. E não cochichavam não, as imprecações foram vociferadas em alto e bom som e para quem quisesse ouvir.   
    Não dá o que pensar esse tipo de atitude das pessoas? Eu sou do tempo que duas senhoras aparentemente distintas jamais tomariam esse tipo de atitude.
       E as crianças, deus do céu... eu sou do tempo que os pirralhos obedeciam e respeitavam seus avós e, por consequência respeitavam idosos. Mais um caso. Eu ainda morava em São José e, certo dia, eu e minha esposa nos deparamos com uma cena muito deprimente. Voltávamos de carro de uma churrascaria,  já passava da meia noite, quando observamos que uma senhora, da janela da sua casa, chamava o neto pedindo que entrasse para dentro devido a adiantado da hora. O menino que não poderia ter mais que 12 anos, no primeiro momento apenas olhou a senhora, não respondeu nada e continuou o papo com uns rapazes que estavam em sua companhia. A preocupada senhorinha, ainda encarapitada na janela, chamou-o novamente sendo que dessa vez ele respondeu; - vó, vá pá merda!!! Foi o que deu para ver e ouvir antes que nos distanciássemos do local. Francamente gente, eu sou do tempo que se acontecesse uma coisa dessas, os próprios rapazes que faziam companhia teriam dado uma surra no moleque ao invés de ficarem rindo.
       Evidentemente que todo comentário que faço e seja lá de que assunto que trate, sempre me abstenho de generalizar, até porque as bondades e maldades desse mundo sempre existiram e existirão. Então o que quero dizer é que pessoas mal educadas, crianças agressivas e desbocadas, jovens rebeldes sem causa, sem educação, não se constituem invenções dessa geração pois fazem parte do contexto social em que vivemos desde que o mundo é mundo, mas...
     Observando as transformações que ocorreram e que estão ocorrendo no planeta, como de forma vertiginosa os recursos tecnológicos surgiram, como a transmissão de conhecimentos e culturas se espalharam e se misturaram entre os povos, não seria de esperar que as pessoas se tornassem melhores e mais educadas em suas interações pelo mundo?        
     Quando alguém começa a dizer - ah, pois é, no meu tempo... dá vontade de responder que no seu tempo porra nenhuma mas depois fico imaginando que de repente naqueles "bons tempos" muita coisa de ruim que se faz hoje naquele tempo não se fazia mesmo. Por exemplo, desde quando que naquele tempo um aluno daria um chute no trazeiro de uma professora por mais louca que ela fosse? Nunca mesmo. 
        O que podemos fazer? Quem sabe embarcar as pessoas numa máquina do tempo, numa arca de Noé dos tempos modernos e retornar a um passado mais educado? Mas...e o computador nosso de cada dia, a internet, o orkut, o facebook, as câmeras digitais, o shopping... Ninguém vai querer voltar à máquina de escrever se bem que eu sou do tempo da datilografia, do tempo que o sistema não caia deixando bancos, empresas e pessoas no maior apuro. 
         Lembro que minha vó Ondina, à beira do fogão de lenha, enquanto assava tainhotas e corvinas na grelha sobre brasas incandescentes resmungava que antigamente as coisas eram melhores, havia o escravo fazendo o trabalho pesado da roça e as negras fazendo os trabalhos domésticos, agora...
         A conclusão que se chega é que, em qualquer época que se viva, a anterior, a que ficou para trás sempre será melhor. E fico imaginando ainda que é normal que as pessoas mais antigas, em algum momento, insatisfeitas com o rumo que o mundo está seguindo, tenham vontade de descer desse planeta. 







   




  

terça-feira, 24 de julho de 2012

FELIZ É QUEM AMA O QUE FAZ ?

      

 


         Tenho seguidamente ouvido dizer isso: "feliz é aquele que ama o que faz". Evidentemente que isso é uma verdade incontestável, mas e quando estamos naquela função determinada pela necessidade do momento, quando se trata de optar por agarrar a oportunidade de trabalho ou é o desemprego? 
     Tenho pensado muito nisso porque vez em quando dá vontade de afirmar isso a meus filhos "feliz é aquele que ama o que faz" , dá uma vontade imensa dizer a eles essa verdade resumida nessa frase de estímulo para orientá-los que sigam uma profissão que seja apaixonante para eles. Mas eu tenho medo de dizer, confesso. Prefiro dizer que qualquer atividade que exerçamos em nossas vidas devemos executá-la com competência, com planejamento, com organização, com objetivos claros, com honestidade, com ética, com responsabilidade acima de tudo. 
     De que adianta amar uma profissão se esquecemos qualquer um desses princípios? Adianta de nada. Amar uma profissão não basta se a ela não dedicamos nosso estudo e pesquisa, se não projetamos o futuro que queremos quando abraçamos uma atividade seja ela qual for. Mas o pior, o trágico, é quando a irresponsabilidade se une a completa falta de tesão por aquilo que se faz. Alguém sempre vai pagar por isso. Aquela enfermeira que estava de plantão na UTI do hospital (não vou citar o nome) por ocasião de um procedimento cirúrgico nas minhas artérias carótidas é um bom (ou mau) exemplo do que estou falando. Ela devia ficar atenta 24 horas na observação dos pacientes mas, ao invés disso, se distraia na internet trocando figurinhas com alguém em alguma rede social. Por três vezes falei que não estava bem, que estava me sentindo muito mal e ela apenas me disse: se piorar muito me fala. A minha grande sorte foi que naquele  momento crítico a enfermeira chefe passou por ali, olhou o termômetro da pressão acima da minha cabeça e então foi aquela correria. De repente me ví cercado por enfermeiras e  médicos ditando procedimentos de urgência para salvar minha vida de modo que graças a essa equipe médica de plantão e, principalmente, a enfermeira chefe hoje estou aqui escrevendo essas linhas. 
            Gostaria muito de poder perguntar para aquela enfermeira do plantão daquela noite que costuma se distrair nas redes sociais enquanto os pacientes ficam gemendo em seus leitos se ela ama sua profissão, se ama o que faz e se é feliz...De que adianta dizer que somos felizes porque amamos uma profissão ou alguém, porque amamos nossos filhos, nossos irmãos, nossas esposas ou maridos se deles não cuidamos com responsabilidade? Pelos exemplos de amor que tenho observado só posso chegar a essa conclusão: que muita gente ama só da boca para fora. Até as pessoas que dizem com aquele fervor característico que amam a deus estão sob suspeição pois suas atitudes egoístas na vida nem de longe correspondem ao que deus supostamente espera delas que é viver solidário a dor do seu próximo.      










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quarta-feira, 4 de julho de 2012

OS ANIMAIS NÃO SERIAM SANTOS SE...



 
        Outro dia numa das comunidades do orkut que participo duas pessoas iniciaram uma discussão interessante sobre pessoas e cães, sinceramente não sei quem teria razão uma vez que as duas partes apresentavam argumentos bastantes convincentes. Tudo começou porque uma delas postou algo assim: "quanto mais conheço as pessoas mais admiro os animais". A segunda pessoa respondeu que quando alguém começa misturar gente com bicho na mesma escala de valor é porque anda mal da cabeça" ou porque não consegue conviver com seus iguais e vai se consolar com os bichos de estimação, que aceitam tudo, que obedecem tudo e só abanam o rabo como resposta.
      Analizando essa questão me veio à lembrança que, muitas vezes, quando eu miro bem nos olhos de meu cachorro me pego pensando o que ele estaria pensando mas logo me lembro que bicho não pensa. Mas foi numa dessas ocasiões que me ocorreu o seguinte: E se os bichos pensassem e nós não, seriam eles o que são? Lógico que não seriam, como também e da mesma forma não seríamos o que somos em termos de sociedade humana.
  Cabe então fazer uma reflexão sobre alguns aspectos a serem considerados à partir da suposição de uma inversão de papeís quanto a capacidade de raciocínio entre, por exemplo, os cães e o homem. 
    Partindo do princípio que na evolução das espécies o cérebro canino se desenvolvesse mais que os demais animais como seria e como se daria a relação entre o homem e os cães? Inteligentes e com a capacidade para planejar, organizar, criar, modificar, seriam os cães melhores do que somos? 
      Levou um susto?
   Pois é, quem duvida que eles não seriam ainda piores, bem mais perversos, falsos, ardilosos, arrogantes, prepotentes mais odiosos e opressores do que nós, os humanos? É muito bom pensar nisso quando dizemos que quanto mais conhecemos o homem mais gostamos dos animais.
       Outro aspecto que vem a mente diz respeito a cadeia alimentar e como estaríamos nós numa situação de inferioridade intelectual na relação com nossos senhores, os cães. Deus me livre de pensar se não seríamos a primeira opção na mesa dos bichos...as mulheres naturalmente teriam a preferência no cardápio, nós, os homens, com essa carninha dura, cheia de músculos ficaríamos como segunda opção, os cães, certamente, gostariam de degustar as mulheres. Com suas coxas mais grossas, bundas mais polpudas e com suas carnes mais tenras e gostosas, sem dúvida, seriam levadas ao matadouro e abatidas com maior frequência.
      Penso que haveriam ONGS, Associações de Proteção a Humanos que defenderiam uma morte com pouco ou nenhum sofrimento, haveriam poucos e abnegados cães que lutariam pela criação de lei que proibisse estraçalhar humanos vivos, principalmente as mulheres, tão fofinhas...essas boas almas caninas recolheriam os humanos que vagassem pelas ruas, famintos revirando lixo para comer e abrigariam em instituições que dariam uma boa complementação alimentar até colocá-los para abastecimento em algum açougue de supermercado.
     Vou parar por aqui e deixar o resto por conta da imaginação de vocês, mas antes gostaria de fazer alguns recortes nesse texto para ajudar na reflexão sobre a relação com os nossos amigos os animais:

a) é fundamental entender que bicho é bicho, gente é gente, como ser vivo, com suas especificações e limitações impostos pela mãe natureza, fato;

b) precisamos nos aceitar assim mesmo como somos, qual seja, uma colcha de retalhos onde se misturam virtudes e defeitos e admitir que nosso inocentes animais de estimação como os cães e outros animais não seriam esses santos, não seriam nem melhores ou diferentes se estivessem em nosso lugar como os privilegiados pela natureza na evolução das espécies;

c) amar e respeitar os animais é, justamente, entender que nosso desenvolvimento intelectual em nível superior a outros seres vivos é uma enorme dádiva da mãe natureza para com a espécie humana e, respeitá-los, é o mínimo que podemos fazer levando-se em conta que é assim que gostaríamos de sermos tratados se estivéssemos nas mesma posição que eles.






quarta-feira, 6 de junho de 2012

RONALDINHO GAÚCHO, GÊNIO DA BOLA, MILIONÁRIO, FAMOSO E...FEIO!"








O drama vivido por Ronaldinho Gaúcho é um caso a ser tratado no âmbito da Psicologia Social e trás componentes mais intrínsecos que a suposta condição de bêbado, notívago ou mercenário do craque de bola.  A verdade precisa ser dita porque o fato é que o que Ronaldinho Gaúcho faz fora dos gramados Renato Gaúcho, Romário, Ronaldo Fenômeno, Pelé, Maradona e muitos outros fizeram e fazem ainda muito pior.  A pergunta então é: Por que esse estardalhaço todo? Porque em todos os canais de televisão, nos rádios, jornais, só se fala em Ronaldinho Gaúcho e, na maioria dos caso, se fala mal? Com o mesmo vigor falam de sua decadência moral quanto física e o pior, paralelamente e inacreditavelmente, foi passado uma borracha criminosa apagando simultaneamente tudo o que ele fez de maravilhoso e exemplar com a bola nos pés na última década.

Quando falo que esse drama vivido pelo craque acusado de cometer excessos que prejudicam sua carreira deve ser visto também pela ótica da Psicologia Social afirmo isso porque essa reação moralista da imprensa brasileira e da população tão facilmente manipulável , tão facilmente enredada por histórias novelescas e programas tipo BBB, sofrem da Síndrome de repulsa do feio. Síndrome cultivada no seio de uma sociedade doentia escrava da beleza e que não perdoa quem escapa desse perfil estético cujas linhas estão acentadas em características físicas do que é entendido e aceito como belo. 

Assim, tendo mais a acreditar que o que Ronaldinho fez de tão horrível para suscitar tanta rejeição foi ter nascido feio, daqueles feios que infelizmente não dá para disfarçar com maquilagem, nem com boas roupas, nem com plástica pois teria que mudar praticamente tudo no rosto se quizesse melhorar.        

O que mais enerva essa parcela doentia escrava dos ditames da beleza é que Ronaldinho Gaúcho nasceu sim feio de doer mas acompanhado de uma sorte tão grande ou maior que sua feiúra, fato que dificulta enormemente a essa gente de externar sua incontida repulsa por ele ser feio e não bonito. Ronaldinho, afortunadamente, nasceu numa família bem estruturada, uma boa família, com irmãos unidos, que se querem bem, pais amorosos que deram amor e carinho na infância e adolescência. Vendo-o falar, salta aos olhos que recebeu uma boa educação. 

Seguiu a carreira do irmão, Assis, e se transformou no maior jogador do futebol brasileiro de todos os tempos somente suplantado em fama por pelé e,  verdade seja dita, não superou pelé porque esse viveu numa época que se inventava rei para tudo, havia o rei do rock, o rei do bolero, rei da música popular brasileira e rei do futebol. Se surgisse naquela época e jogando o futebol genial e desconcertante que joga nos dias atuais, para azar de pelé,   Ronaldinho é que seria o eternamente rei.  

Como aspirante a jogador de futebol, no caso de Ronaldinho, a carência de beleza não atrapalhou seus planos que era jogar, ficar rico e famoso. Ficou famoso e milionário e, se fosse bonito, fizesse o que fizesse seria idolatrado uma vez que essa parcela da sociedade doentia escrava do belo é suficientemente hipócrita para perdoar os deslizes éticos e morais de seus "bonitões".                        

 Enquanto aplaudem suas jogadas geniais, seus dribles quase impossíveis aguardam a primeira oportunidade para expressar toda aversão que sentem pela  falta de beleza do craque, uma má fase por temporária que seja e não perdem tempo e passam a ação. Ainda há o acréscimo de grande parte da imprensa odiá-lo pelo fato do craque querer distância de repórteres, fotógrafos, etc. mantendo onde quer que vá um batalhão de seguranças prontos a espantar essas aves de mau agouro sempre prontos a fofocar, futricar, bisbilhotar a vida íntima dos famosos. 
A carreira de Ronaldinho Gaúcho não chegou ao fim e seu belo futebol ainda vai render grandes jogadas para deleite de nossos olhos, disso tenho a mais absoluta certeza, mas é bom ele se precaver psicologicamente. Tomara que jogue ainda por muitos anos, até os quarenta ou mais para que nossos olhos cansados de ver tanta mediocridade e nulidades em campo brilhem de alegria sempre que a bola chegar aos seus pés mágicos. Obrigado Ronaldinho Gaúcho.  


"Que ninguém culpe um homem por ser feio". (Aristóteles) 
 

"Beleza não vale nada e depois não dura. Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por alguma outra razão". (Charles Bukonski)